capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 24/09/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.760.302 pageviews  

Tema Livre Só pra quem tem opinião. E “güenta” o tranco

O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O mercado e a narrativa da esperança
03/11/2014 - Blog de Geraldo Samor - Veja.com

Uma semana depois da reeleição, o clima continua pesado, e o ar, praticamente irrespirável em vastos segmentos do empresariado e do mercado financeiro.

A maioria das conversas começa com lamentos sobre os quatro anos “em que não haverá reformas”, prossegue com queixas em relação ao crescimento pífio que aguarda o Brasil, e termina, invariavelmente, nas divagações sobre o bolivarianismo que nos espreita -- os tons de gravidade variando conforme o interlocutor.

E ainda assim, apesar de toda a retórica fatalista, a Bovespa não se jogou do precipício e o dólar sobe de um jeito comportado, em sintonia com seu fortalecimento contra todas as outras moedas.


PUBLICIDADE


Não apenas isso, na sexta-feira a Bolsa conseguiu um rali generalizado, que levantou tanto as empresas estatais quanto aquelas que realmente se dedicam a ganhar dinheiro.

Mas como isto é possível? O fim do Brasil já não estava sentenciado? O índice Bovespa não deveria estar nos 45 mil pontos (em vez dos atuais 54 mil)? E o dólar, não deveria estar mais próximo de 2,80 (em vez de 2,50)?

Será que estamos apenas num pitstop a caminho do Inferno?

O mercado financeiro -- a mais sofisticada balança de expectativas -- é um equipamento sem coloração política, sem fidelidades partidárias, que processa todas as informações disponíveis e cujo ponteiro só pretende apontar uma coisa: o clima para os negócios é favorável ou não? (Se o clima é bom, o capital tem mais chances de ir bem, e a sociedade colhe os benefícios, direta e indiretamente.

Quando o clima é ruim, o capital se retrai, e a sociedade colhe PIBinho, desemprego e desesperança.)

Na última semana, as “informações disponíveis” vinham do Planalto e apontavam para um clima mais favorável. Todo o círculo íntimo da Presidente se empenhou na construção de uma narrativa para sinalizar aos mercados que Dilma 2.0 vai, sim, mudar em relação à primeira versão do software -- aquela versão lenta, confusa, cheia de bugs, sempre ameaçando os jogadores com um "system shutdown".

As peças dessa nova narrativa incluem a promessa de um ajuste fiscal “violentíssimo” (no adjetivo fornecido por uma fonte -- provavelmente palaciana -- à repórter Claudia Safatle, do Valor) e o vazamento de uma lista de nomes sacrossantos para o Ministério da Fazenda (de São Trabuco ao padre Meirelles, passando pelo que parece ter mais chances, o beato Barbosa).

Para terminar, uma pitada de juros e a iminência de um aumento da gasolina.

Obviamente, essa "narrativa da esperança" encontrou terreno hostil: uma terra árida, chamuscada pela seca de credibilidade dos últimos quatro anos, e tornada ainda mais estéril depois de uma campanha que satanizou o capital.

Mas, como é típico da esperança, ela ainda assim vingou, e hoje floresce no preço dos ativos.

A Bovespa fechou sexta-feira quase 12% acima do ponto mínimo atingido na segunda-feira pós-reeleição.

Mas mesmo as melhores profissões de fé têm prazo de validade, e precisam ser corroboradas por atos congruentes com a retórica.

É por isso que esta semana será particularmente crítica. É improvável que o novo velho Governo, em busca de reverter um divórcio que já parecia fato consumado, consiga manter a empatia dos mercados apenas prometendo levantar a tampa do vaso da próxima vez.

Há, também, o problema da assimetria entre o dito e o feito. Agora que as expectativas foram elevadas, o custo de uma decepção seria enorme.

Tomara que o Governo entenda que, se houver recuo, todo o esforço feito até agora na construção dessa narrativa se voltará contra ele, produzindo um buraco negro de credibilidade que engoliria qualquer resto de boa vontade daqui para frente.

Até a capacidade do Planalto de testar "balões de ensaio" seria comprometida, o que diminuiria a capacidade do Governo de lidar com crises na economia. A hora é de entregar.

Mas o que será que uma Presidente que acredita profundamente em política industrial e que, bizarramente, segue o modelo econômico da ditadura que combateu conseguirá entregar a um País eternamente em crise de abstinência de uma dose cavalar de capitalismo na veia?

A média dos economistas ortodoxos diz que, para colocar o tripé macroeconômico nos eixos, o Brasil precisaria de um superávit primário de 3% do PIB em 2015 e de um ciclo de aperto monetário que aumente a Selic entre 2 e 3 pontos percentuais a partir dos níveis atuais.

Este seria o cenário ideal, o da cartilha, e portanto improvável no País do "acochambramento", do "puxadinho", do "dar um tapa".

“Aqui a gente não faz tudo o que precisa ser feito, mas também não aceita que se faça nada,” diz um amigo da coluna.

Fazemos sempre algo entre o nada e o ideal. Fazemos aquilo que chamamos, com magna condescendência, de "o possível neste momento".

Assim, provavelmente, o Governo vai acabar se comprometendo com um superávit mais tépido, entre 1,5% e 2% do PIB, e o Copom subirá a Selic entre 1,0 e 1,5 ponto percentual.

E os mercados ainda assim vão dar aleluias porque, além dessa esperança cuidadosamente manufaturada, ironicamente o maior ativo do Governo Dilma neste momento é o baixíssimo nível de expectativas em relação à sua capacidade de fazer a coisa certa.

A boa notícia, a se acreditar nesta tese, é que nunca nos tornaremos um País bolivariano. Mas daí a implantarmos um capitalismo de verdade, aí também já seria pedir demais.


  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
14/08/2023 - NONO NONO NONO NONO
11/08/2023 - FRASES FAMOSAS
10/08/2023 - CAIXA REGISTRADORA
09/08/2023 - MINHAS AVÓS
08/08/2023 - YSANI KALAPALO
07/08/2023 - OS TRÊS GARÇONS
06/08/2023 - O BOLICHO
05/08/2023 - EXCESSO DE NOTÍCIAS
04/08/2023 - GUARANÁ RALADO
03/08/2023 - AS FOTOS DAS ILUSTRAÇÕES DOS MEUS TEXTOS
02/08/2023 - GERAÇÕES
01/08/2023 - Visitas surpresas da minha terceira geração
31/07/2023 - PREMONIÇÃO OU SEXTO SENTIDO
30/07/2023 - A COSTUREIRA
29/07/2023 - Conversa de bisnetas
28/07/2023 - PENSAR NO PASSADO
27/07/2023 - SE A CIÊNCIA NOS AJUDAR
26/07/2023 - PESQUISANDO
25/07/2023 - A História Escrita e Oral
24/07/2023 - ESTÃO ACABANDO OS ACREANOS FAMOSOS

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques