O PT sai do armário 04/11/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
O PT, finalmente, fala a verdade -- pode não ser toda ela, mas é parte dela ao menos.
Ontem, segunda, a Comissão Executiva Nacional do partido divulgou uma resolução espantosa.
Trata-se de um dos textos mais rancorosos e esquerdopatas desde que o partido chegou ao poder, em janeiro de 2003.
PUBLICIDADE
Vale dizer: 12 anos no comando do país, com chance de chegar a 16, não aplacaram, como diria o poeta, a fúria do algoz.
Ao contrário. O texto tem, reitero, ao menos a virtude da sinceridade:
a: deixa claro que a disposição para o diálogo do governo Dilma é uma farsa;
b: confessa que seu objetivo é promover o que chama “revolução cultural” para construir a “hegemonia”;
c: evidencia que o objetivo da reforma política é mesmo aniquilar ou subordinar as demais vozes da sociedade.
Eu nunca tive dúvida a respeito desses propósitos.
Mas havia quem tivesse. Agora, não precisa ter mais. Os petistas o confessam.
Entre outras barbaridades, pode-se ler no documento:
“A oposição, encabeçada por Aécio Neves, além de representar o retrocesso neoliberal, incorreu nas piores práticas políticas: o machismo, o racismo, o preconceito, o ódio, a intolerância, a nostalgia da ditadura militar”.
Uma única mentira constrange; uma borrasca delas assume certo tom de comicidade.
Note-se que não vai acima o perfil de um partido adversário, mas o de uma força que tem de ser eliminada.
Esse é o partido que terá o comando do governo, ao qual pertence a presidente Dilma Rousseff, que diz querer o “diálogo” com a oposição.
Mais: Aécio obteve 48,36% dos votos -- 51.041.155.
Quer dizer que metade do eleitorado votou no racismo, no machismo, no ódio, na intolerância e na nostalgia da ditadura?
Um texto como esse é um acinte e um disparate.
Essa gente está no comando do país, o que explica muita coisa.
Reitero, no entanto, que não falta à resolução ao menos a virtude da sinceridade.
O texto confessa:
“É urgente construir hegemonia na sociedade, promover reformas estruturais, com destaque para a reforma política e a democratização da mídia”.
O leitor pouco familiarizado com alguns termos próprios da política pode não identificar, mas o PT está se referindo à “revolução gramsciana”, numa referência ao teórico comunista italiano Antonio Gramsci.
Na mesma resolução, o partido deixa claro:
“Para transformar o Brasil, é preciso combinar ação institucional, mobilização social e revolução cultural”.
O que é “hegemonia”?
É a ditadura perfeita.
Prefiro citar o próprio Gramsci, que a definiu como ninguém.
Para que você entenda a referência, é preciso saber que ele chamava o partido que comandaria a sociedade como o “Moderno Príncipe”.
Leiam o que escreveu:
“O Moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar o seu poder ou para opor-se a ele.
O Moderno Príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume”.
Entenderam?
A revolução cultural gramsciana, que conduz à hegemonia, esta que o PT agora diz abertamente querer, faz do “partido” a única verdade possível.
Desaparecem os valores e a moral.
Será crime o que o partido definir que é crime.
Será virtude o que o partido definir que é virtude.
Toda ação, diz Gramsci, deve ser analisada apenas segundo um critério: ela serve para aumentar o poder do partido ou para combatê-lo?
Se servir para aumentar, não importa o que seja, é bom; se servir para combatê-lo, não importa o que seja, é ruim.
Mensalão, aloprados, roubalheira na Petrobras???
Aumentam o poder do partido?
Então são virtudes.
E o PT dá o caminho da sua busca pela ditadura perfeita.
Está lá na resolução:
- reforma política, precedida de um plebiscito, através de uma Constituinte exclusiva;
- democracia na comunicação, com uma Lei da Mídia Democrática -- isso quer dizer “censura”;
- retomada do projeto que entrega a administração federal a conselhos populares.
A resolução do PT retira a máscara do segundo governo Dilma e deixa claro que aqueles que embarcarem nessa conversa estarão pondo a corda no próprio pescoço.
Assim, tudo o que os políticos comprometidos com a democracia representativa puderem fazer para que os petistas não assumam o comando da Câmara deve ser feito.
Para encerrar, observo: não se iludam os líderes do PMDB.
O partido está na mira da “revolução cultural” petista, cuja hegemonia, obviamente, só poderia ser conseguida com a destruição da legenda aliada.
Espalhem o texto.
Agora não há mais disfarce.
É projeto ditatorial mesmo!
Mas não vão conseguir.
PS: Aí o idiota diz: “O Reinaldo acha que o PT é comunista!”.
Não! Eu não acho!
Quando vejo Lula e Zé Dirceu, penso em outros tipos…
Em comunistas, não!
Nunca disse que o PT é comunista.
Digo que é autoritário com pretensões totalitárias.