O eleitor de Dilma não se sente traído? 05/11/2014
- Blog de Rodrigo Constantino - Veja.com
Apenas dez dias após Dilma ser reeleita já ficaram evidentes inúmeros estelionatos eleitorais. Logo três dias após a vitória, o Copom resolveu subir a taxa de juros, algo que era, durante a campanha, associado a coisa de tucano “neoliberal” insensível para com os pobres.
Quando é o PT quem faz tudo bem?
Em seguida, os nomes de dois banqueiros passaram a ser considerados na lista de prováveis substitutos de Guido Mantega. Trabuco, do Bradesco, e Meirelles, que foi presidente do Bank Boston, portanto banqueiro internacional, seriam as sugestões de Lula para o cargo.
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Mas banqueiro não faz a comida desaparecer do prato dos miseráveis?
Por falar em bancos, o PT não era o partido que iria enfrentá-los para proteger os pobres?
Marina Silva não foi acusada de defensora de banqueiros por ter o apoio de uma herdeira do Itaú?
Pois bem: o próprio divulgou esses dias seu lucro recorde: R$ 5,4 bilhões no trimestre! Um aumento superior a 35% contra o ano passado. Imagina só se Dilma fosse amiga, e não inimiga dos banqueiros…
A inflação, vamos lembrar, estava “sob controle”, disse uma Dilma firme.
Chegou a afirmar que era zero, pegando um mês apenas, um ponto fora da curva.
E os preços represados?
Isso não existia, garantiu a presidente candidata.
E agora?
Agora a Aneel já autorizou o aumento de quase 20% na conta de luz para várias empresas, como a Light aqui no Rio, e a Petrobras já entrou com pedido de aumento para a gasolina, que deve ser aprovado em breve.
A OCDE divulgou que, enquanto a inflação mundial caiu pelo quarto mês consecutivo, a nossa subiu.
Mas não era tudo culpa de uma suposta “crise internacional”?
Ao menos isso foi dito durante a campanha.
Dilma seria intransigente com a corrupção também. Foi a promessa durante a campanha.
O que aconteceu depois?
André Vargas, aquele deputado que saiu do PT para evitar constrangimentos após vazarem dados sobre sua íntima relação com o doleiro Alberto Youseff, foi passear na sede do PT, para trocar dois dedos de prosa com seus “ex-colegas” de partido.
É essa a imagem de quem não compactua com a corrupção?
O presidente da Transpetro, ligado ao PMDB que apoiou Dilma, caiu nesses dias também.
Diante disso tudo -- e é só o começo -- caberia perguntar aos eleitores do PT: não se sentem traídos?
Esperavam tantas mudanças repentinas logo depois do pleito, em direção contrária ao que foi dito na campanha?
Ou será que não se importam com o estelionato eleitoral, pois o que vale é ficar no poder “em nome do povo”, custe o que custar?
É por essas e outras que costumo dizer que o PT não tem mais eleitores, e sim cúmplices.
Qualquer pessoa com algum resquício de decência estaria cobrando do partido e da presidente reeleita explicações para tantos atos opostos ao prometido na campanha.
Mas os eleitores do PT fazem um ensurdecedor silêncio.
É conivência.
Estão dando o aval para mentir, para enganar os mais ignorantes.
Aumento de juros, aumento da conta de luz, aumento da gasolina, aumento do lucro dos bancos, e proximidade amigável com notórios corruptos: quem não se sente traído só pode ser cúmplice.
Podem ficar sossegados, caros eleitores do PT, que estaremos aqui por muito tempo para jogar em suas caras que são responsáveis por isso tudo também.