Hoje tem jogo em Brasília 06/11/2014
- Juca Kfouri - Folha/UOL
Pela manhã, todos os setores do governo federal envolvidos com a Lei da Responsabilidade Fiscal no Esporte se reunirão na Casa Civil para discutir o texto pretendido pela CBF, clubes e jogadores, representados pelo Bom Senso FC.
O texto atual estuprou o acordo entre as partes depois de longas reuniões graças à colaboração do advogado cearense Álvaro Melo Filho, há décadas o redator de legislações a serviço da CBF, habilidoso para ser tão ambíguo como possível e enganar os incautos.
Ele está para as leis esportivas assim como Gama e Silva esteve para o AI 5, com a diferença de que o ministro da Justiça do ditador Costa e Silva não disfarçava seus propósitos.
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As mudanças no que era consensual e que fizeram o BSFC denunciá-las como traição não são poucas, no mínimo nove, como esclareceu o movimento dos jogadores, a saber:
"1. Os atletas defendem o teto salarial, com a inclusão do custo futebol limitado a 70%;
Os cartolas são contrários.
2. Os atletas defendem que dirigentes da CBF tenham mandatos de apenas quatro anos com limite a uma recondução, com o enquadramento no art. 18-A da Lei 9615/98;
Os cartolas excluíram esse artigo do projeto de lei.
3. Os atletas querem ter poder de voto nas entidades de administração (Federações e CBF);
Os cartolas retiram essa possibilidade do projeto de lei.
4. Os atletas defendem a inelegibilidade por 10 anos de dirigentes punidos por gestão temerária nas entidades de administração (Federações e CBF);
Os cartolas não preveem qualquer tipo de punição a dirigentes de Federação e CBF.
5. Os atletas defendem a fiscalização do cumprimento do direito de imagem; os cartolas não.
6. Os atletas defendem que os clubes inadimplentes sejam punidos já em 2016;
Os cartolas querem que as punições só valham a partir de 2019.
7. Os atletas defendem que o Órgão Fiscalizador seja composto por Treinadores, Executivos, Árbitros, Atletas, Patrocinadores, CBF e Clubes;
Os cartolas defendem apenas representantes da CBF (na função pré-determinada de presidente),clubes, Conselho Federal de Contabilidade, OAB e atletas.
8. Os atletas defendem o prazo de 90 dias para criação do Órgão Fiscalizador;
Os cartolas retiram esse prazo do projeto de lei.
9. Os atletas definem o ato de gestão temerária;
Os cartolas incluem ressalva ampla ao conceito."
Como se vê, mais até que um braço de ferro, estamos diante de um embate entre o atraso e o avanço, entre o que está aí e a modernização de nosso futebol.
Pois eis que, no fim da tarde, na mesma Casa Civil, o ministro Aloizio Mercadante receberá um dos líderes do BSFC, o zagueiro Paulo André, para a segunda reunião do dia sobre o mesmo tema.
Não é segredo que o governo está disposto a fazer avançar o processo que há anos emperra o progresso do futebol no Brasil e melhor oportunidade faz tempo que não aparece.
Se não der para já, tudo indica que ficará para o ano que vem.