Ameaça nada velada, e estúpida, ao grupo Globo 07/11/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Como Dilma quer censurar a imprensa. Ou: A conversa mole de monopólios e oligopólios.
Dilma concedeu uma entrevista a oito jornalistas de veículos impressos, inclusive a Folha de S.Paulo.
Aprendi, lendo o jornal que, “no que se refere”, como ela mesma diria, à mídia, ela não quer controle de conteúdo.
PUBLICIDADE
Seus alvos seriam o monopólio e o oligopólio.
Ah, bom!
Sempre que se diz algo assim, eu pergunto: mas quem tem o monopólio ou o oligopólio de quê?
O PT quer, sim, a censura -- chama a isso de “controle social” --, mas a represidenta diz se contentar com a “regulação econômica”.
O que é isso?
Ela não diz.
Não dizendo, tanto melhor!
Ganha a simpatia de grupos que têm a esperança de entrar no setor e espera contar com a mansidão daqueles que podem vir a ser prejudicados.
Em certo sentido, a melhor coisa que o PT pode fazer para “controlar a mídia” é manter a permanente ameaça de… controle da mídia, entenderam?
Aí leio o seguinte trecho na Folha:
"Perguntada sobre o conceito de monopólio incluir a chamada propriedade cruzada, quando um mesmo grupo econômico possui rádios, TVs e jornais, a presidente disse:
- Não só a propriedade cruzada. Tem inclusive um desafio, que é saber como fica a questão na área das mídias eletrônicas. O que é livre mercado total? Tenderá a ser a rede social, eu acho”.
É claro que o primeiro nome que vem à cabeça é o grupo Globo: TV aberta, TV por assinatura, rádio, revista, jornal, portal eletrônico…
Muito bem!
O grupo enfrenta concorrência em todas essas áreas.
Tem a liderança na TV aberta?
Tem.
Mas perde para o UOL nos portais, para a Folha nos jornais, para a VEJA nas revistas e para um monte de emissoras, inclusive Jovem Pan, nas rádios.
Nas TVs, inclusive a cabo, está muito longe de exercer o monopólio.
No caso, que mal a dita “propriedade cruzada” causa à liberdade de expressão ou à concorrência?
Resposta: nenhum!
Com o advento da Internet, que trouxe as redes sociais, as TVs nos portais -- que se multiplicam --, os sites, os blogs, falar em “monopólio ou oligopólio” é má-fé ou burrice.
E eu aprendi a não tratar essa gente como burra.
Que mudança Dilma quer fazer?
Vai posar de Cristina Kirchner?
Exigirá, por exemplo, que as rádios do grupo Globo sejam repassadas a algum empresário amigo do petismo?
Forçará as emissoras a escolher a TV aberta ou por assinatura?
Ela já tem em mente a lista de nababos para entrar em negócios já consolidados?
Mais: não fossem as outras fontes de renda na área de comunicação, que grupo hoje manteria jornal impresso?
Esse não é um reclamo do povo, mas de grupelhos a soldo, que hoje vivem da propaganda oficial de estatais e da administração direta.
Isso é conversa para boi dormir.
Das duas uma: ou o governo quer manter a eterna ameaça no ar para contar com a bonomia dos que pretendem se preservar do ataque oficial, ou Dilma quer, sim, o controle de conteúdo, forçando a divisão de empresas para entregar aos amigos do poder -- esse mesmo poder que, hoje, já financia os amigos.
Insisto: quero saber o que Dilma considera “monopólio e oligopólio”.
Sem que ela explique, afirmo que suas considerações não passam de trapaça intelectual.