Na entrada e na saída 10/12/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
É bem possível que o ministro Gilmar Mendes, do STF, relator das contas da campanha de Dilma Rousseff no Tribunal Superior Eleitoral, faça um relatório favorável à sua aprovação, ainda que, como costuma acontecer nesses casos, possa fazer ressalvas aqui e ali.
Os técnicos do TSE apontaram erros formais, mas talvez eles não justifiquem, numa primeira mirada -- dado o tempo exíguo existente para uma apuração detalhada das falhas --, a rejeição, que, de resto, estou certo, não contaria com o endosso da maioria do tribunal.
Ainda que Mendes aprove as contas -- como, creio, tente a acontecer --, dados que vieram à luz nos fazem pensar.
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Vamos ver o caso interessantíssimo da tal “Focal”, a empresa de “montagem de eventos” que tem como sócio um motorista que, até o ano passado, recebia um salário de R$ 2 mil.
Ela responde pelo segundo maior gasto do PT: R$ 24 milhões.
Ontem, terça, um homem chamado Carlos Cortegoso diz ser o verdadeiro dono da Focal, que também tem como clientes a Petrobras e os Correios.
Não estou dizendo que aconteceu assim.
Apenas exponho aqui uma possibilidade para a reflexão dos leitores.
Os tontos e os de má-fé querem pôr um fim às doações de empresas às campanhas na suposição de que isso diminuiria a corrupção.
Bem, já está mais do que demonstrado que não.
Aconteceria justamente o contrário: aumentaria o caixa dois.
O caso da Focal nos alerta para uma outra possibilidade -- e, reitero, não estou acusando ninguém: apenas conjecturo.
Não é só na receita dos partidos que pode haver fraude. Ela também pode acontecer na despesa.
Ora, basta que o partido arrume uma nota fiscal de prestação de serviços de uma empresa que só existe no papel -- Alberto Youssef tinha algumas -- para justificar uma saída do caixa.
O serviço, de fato, nunca foi executado, mas o dinheiro está liberado para o partido usar como quiser, inclusive comprando votos mesmo, em moeda sonante.
Sim, não se criam empresas fantasmas apenas para justificar a entrada de dinheiro em caixa; elas também servem para justificar a saída.
Esse, aliás, é um dos métodos empregados nos cafundós do país.
Eis aí mais uma evidência de que quão tosca -- e falsa! -- é aquela conversa de financiamento público de campanha como forma eficaz de combater a corrupção.
Se é feio comprar voto com doações privadas, com recursos do Tesouro, convenham, é um pouquinho pior.
Acho que Mendes vai, sim, se posicionar em favor da aprovação das contas.
É muito provável que seja o que lhe permitem os dados de que dispõe.
Mas que fique a evidência: o sistema de financiamento de campanha está corrompido na entrada do dinheiro e na saída.