O MST, Kátia Abreu e Lula: o falso e o verdadeiro nessa equação 16/12/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
O MST esteve ontem com a presidente Dilma Rousseff para pressioná-la a não nomear a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura.
Duas dissidências do movimento invadiram a sede da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) para protestar contra essa possibilidade.
Nesta segunda, Kátia assumiu um novo mandato na presidência da entidade, do qual deverá se afastar se for mesmo para o ministério.
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Dilma compareceu à solenidade e deixou claro que era uma deferência à confederação, mas também “foi uma forma de homenagear uma mulher que se distingue na direção da CNA e que honra o Brasil”.
Afirmou ainda que as duas estarão “mais próximas do que nunca”.
Assim como setores do mercado -- e da imprensa -- veem a presença de Joaquim Levy na Fazenda como uma aposta -- se garantia não puder ser -- de racionalidade, vejo a eventual presença da senadora no comando da Agricultura como um investimento na competência.
Ela entende do riscado. Se terá ou não condições objetivas para fazer o melhor, bem, isso é o que se verá.
Admiro a sua dedicação ao setor e a sua capacidade de trabalho, nunca escondi isso, e é evidente que não passarei a hostilizá-la só porque integra um governo que não é do meu agrado.
Se acertar, vou elogiar. Se errar, criticar, como sempre faço -- segundo os critérios com os quais opero.
Que o MST e assemelhados sejam contrários à sua eventual nomeação, eis o que eu chamaria de bom começo.
Pelo meu gosto pessoal, nem Levy nem Kátia emprestariam seus respectivos talentos ao governo Dilma.
Mas essas são escolhas deles, não minhas.
Guilherme Boulos, o sedizente líder de sem-teto, me quer no Ministério da Cultura.
Mas eu não quero, hehe.
Adiante.
Na conversa com Dilma, os sem-terra foram levar o chororô à moda Gilberto Carvalho: Kátia representaria o oposto das forças que teriam realmente contribuído para eleger Dilma -- os ditos “movimento sociais”.
Essa é uma daquelas tolices repetidas por aí sem que a gente se dê conta do seu real significado.
É mesmo?
Quantos milhões de votos têm os “movimentos sociais”?
Isso é conversa para boi dormir.
Basta pegar o mapa de votação de Dilma e cruzá-lo com o pagamento do Bolsa Família, e se vai ter claro o que realmente fez a diferença.
Os movimentos sociais não elegeram ninguém -- ou, convenham, o desempenho das esquerdas nos governos estaduais e mesmo nas eleições legislativas teria sido outro.
Práticas eleitorais francamente terroristas fizeram a diferença, numa país que tem 50 milhões de pessoas -- coisa de que Dilma se orgulhou na campanha eleitoral -- penduradas no Bolsa Família.
“Então pobre não sabe votar?”
A pergunta é tola.
Cada um vota segundo as suas condições.
Numa democracia, essa pergunta é descabida.
Mas nem por isso se deve deixar de apontar o óbvio.
A propósito: se saber votar derivasse só de condições financeiras e de escolaridade, não haveria tantos eleitores de esquerda entre universitários.
A elite intelectual brasileira, ou o que deveria ser a elite, vota bem pior do que o povo.
Se Dilma realmente achasse que a eventual presença de Kátia no ministério iria tirar aquela parte do eleitorado que lhe garantiu a vitória -- como afirmam os MSTs e MTSTs da vida --, é claro que ela não faria essa escolha.
Ocorre que a presidente sabe que a rede de apoios de que dispõe Kátia, com milhões de agricultores -- estes, sim, produtores de comida, não de mistificações ideológicas --, é muito maior do que os gatos-pingados e barulhentos dos senhores João Pedro Stedile e Guilherme Boulos, que apenas lideram máquinas de consumir recursos públicos.
Dilma deve levar a senadora para o governo para ampliar sua base de sustentação, não para diminuí-la.
Kátia faz aumentar o apoio ao governo; quem o subtrai é gente como Stedile e Boulos.