O dólar é Friboi 18/12/2014
- Blog de Geraldo Samor - Veja.com
Os irmãos Batista sempre trabalharam muito, tiveram visão estratégica, e, agora, estão prestes a dar uma sorte danada.
A JBS, o império de carne que eles construíram, atravessou as eras Lula e Dilma com a fama de empresa amiga do Governo.
Agora, quando os erros da política econômica do PT tangeram a vaca pro brejo e fizeram o dólar disparar, a empresa dos Batista vai ser uma das maiores beneficiadas pela alta da moeda norte-americana.
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A JBS está presente em 20 países e exporta seus produtos (aprovados por Tony Ramos) para mais de 150. Cerca de 84% de seu faturamento é em dólares.
“A JBS é uma aposta alavancada no dólar,” diz um gestor de recursos.
“Nenhum outro empresário brasileiro -- tirando a turma da cerveja via Anheuser-Busch -- tem 50% da sua operação na América do Norte.”
Desde o IPO da JBS em 2007, os Batista sempre tiveram a visão de se tornar líderes nos três maiores mercados de proteína animal do mundo: Brasil, EUA e Austrália.
O plano de aquisições foi executado com o apoio do BNDES e da Caixa, hoje donos de um terço da empresa.
Uma conta grosseira ilustra como a JBS é beneficiada pela desvalorização do real.
O faturamento da JBS este ano será da ordem de 116 bilhões de reais, e 84% disso será faturado na moeda verde. Assim, cada 1% de alta do dólar aumenta o faturamento da JBS em cerca de 970 milhões de reais.
No lado do passivo, a empresa deve cerca de 40 bilhões, 32 bilhões dos quais denominados em dólar. Assim, cada 1% de alta no dólar faz a dívida crescer cerca de 320 milhões.
“A dívida [da JBS] também sofre a pancada do câmbio, mas os ganhos operacionais se perpetuam por muitos anos,” diz o gestor.
“Quando você converte os resultados lá de fora para reais, ela está dando porrada.”
Além de ganhar quando o dólar dispara, a JBS está em seu melhor momento operacional desde que o patriarca José Batista Sobrinho abriu a Casa de Carne Mineira, na Anápolis da década de 50.
Os preços da carne estão em alta no mercado mundial, e os insumos, em baixa. O chamado “ciclo da proteína” rendeu à empresa um 2014 gordo, e os analistas acham que esse cenário vai durar pelo menos mais um ano.
Aproveitando o vento a favor, a JBS reduziu sua dívida, que um ano atrás era de 4 vezes sua geração de caixa, para apenas 2,5 vezes.
A ação subiu 50% nos últimos 12 meses, e está perto de sua máxima histórica de 12 reais.
O BNDES, que investiu 8,4 bilhões de reais em ações da JBS em vários momentos entre 2007 e 2009 -- incluindo um aporte na Bertin, que logo depois se fundiu com a JBS -- está quase no azul.
Os 24,5% da empresa que o banco tem hoje valem 8,3 bilhões de reais a preços de mercado -- um empate nominal, isto é, sem corrigir o investimento do banco pela taxa de juros do período.
(Excluindo da conta o aporte na Bertin e considerando-se apenas as injeções de capital diretamente na JBS, a conta fica mais bonita para o BNDES: o banco teria um custo médio de 8 reais por ação, ou seja, um ganho nominal de 50% até agora.)
Se o dólar continuar subindo, alguns gestores acham que o BNDES deveria aproveitar a oportunidade para sair do investimento.
“Não dá pra imaginar que, com o Brasil precisando de dinheiro, o BNDES vai ficar com esse caminhão de dinheiro lá…”, diz um analista.
Apesar dos negócios estarem indo de vento em popa, são poucos os gestores brasileiros que compram a ação.
Eles se queixam de uma governança frágil, que inclui uma briga dos Batista com seus sócios, a família Bertin, e questionamentos acerca de um acionista misterioso na empresa, além do recente interesse do Tribunal de Contas da União pelos empréstimos da empresa junto ao BNDES.
Aumentando essa carga política, a JBS foi o maior doador corporativo para a campanha eleitoral de outubro.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, a JBS doou 352 milhões de reais nestas eleições, dos quais 69,2 milhões foram destinados à campanha da Presidente Dilma.
Outros 61,2 milhões foram para candidatos a uma vaga na Câmara dos Deputados e 10,7 milhões de reais a candidatos ao Senado.
“Muita gente não compra ação da JBS por causa da percepção de risco político, mas temos que ser pragmáticos: esse é o cara que mais se beneficia desse cenário atual,” diz um gestor.