Um louco discurso 19/12/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Já lembrei isto à presidente Dilma Rousseff uma vez e o faço de novo: “Quos volunt di perdere, dementant prius” -- “Os deuses primeiro enlouquecem aqueles a quem querem destruir”.
A citação com todos os termos no singular é mais conhecida: “Quem vult deus perdere dementat prius” -- “Deus primeiro enlouquece aquele a quem quer destruir”.
A presidente Dilma Rousseff e Michel Temer, seu vice, foram diplomados nesta quinta-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral.
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Dilma se esqueceu de que recebia ali o documento que lhe permite tomar posse do segundo mandato e resolveu pensar como uma socióloga nefelibata, do tipo que anda com a cabeça nas nuvens e os pés também.
A governanta decidiu se referir à roubalheira na Petrobras e, ora vejam!, dividir as suas culpas conosco.
Na verdade, tudo bem pensado, foi ainda mais grave: a presidente nos tomou a todos como corruptos -- os brasileiros no geral.
Ao falar sobre o que é preciso para coibir a ladroagem na estatal, disse:
“É preciso uma nova consciência, uma nova cultura, fundada em valores éticos profundos. Ela tem de nascer dentro da cada lar, dentro de cada escola, dentro da alma de cada cidadão e ir ganhando de forma absoluta as instituições”.
Com a devida vênia, a presidente enlouqueceu.
Retiro.
Esse discurso não tem né pé nem cabeça nas nuvens. Tem é os dois pés no chão e as duas mãos também.
Quer dizer que há fatores, digamos, antropológicos e socioculturais que explicam os desvios praticados por diretores nomeados pelo PT e uma corja de políticos?
Dilma está a dizer que o país todo é corrupto e que o que se praticava na Petrobras é a nossa rotina.
É mesmo?
Quem nomeou Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Nestor Cerveró?
Foi o cidadão comum, o estudante, a dona de casa, eu, você?
A propósito: eles foram nomeados por quê?
E aqui cumpre lembrar como esta senhora pretende mudar a cultura brasileira: ela vai dar uma vice-presidência do Banco do Brasil a Anthony Garotinho, candidato derrotado ao governo do Rio pelo PR e com uma extensa, como direi?, ficha na Justiça.
O que ele entende do assunto?
Por que vai assumir o posto?
É a sua especialidade que o conduzirá ao cargo?
A presidente investiu ainda no nacionalismo tosco:
“Alguns funcionários da Petrobras, empresa que tem sido e vai continuar sendo o nosso ícone de eficiência, brasilidade e superação, foram atingidos no processo de combate à corrupção. Estamos enfrentando essa situação com destemor e vamos converter a renovação da Petrobras em energia transformadora do nosso país. Temos de punir as pessoas, não destruir as empresas. Temos de saber punir o crime, não prejudicar o país ou sua economia”.
É mesmo?
Fale com o mercado, minha senhora!
Fale com os investidores.
Converse com os acionistas que foram lesados dentro e fora do país.
Infelizmente para nós, é mentira que a Petrobras seja um exemplo de eficiência.
Ao contrário: a empresa não consegue nem fechar o seu balanço e está virando pó.
Infelizmente para nós, é mentira que o que se deu lá seja uma exceção.
O que se fez por lá é método.
O presidente do TSE, Dias Toffoli, também discursou.
Afirmou: “Não haverá terceiro turno na Justiça Eleitoral. Que os especuladores se calem. Já conversei com a Corte, e é esta a posição inclusive do nosso corregedor-geral eleitoral. Não há espaço para terceiro turno que possa vir a cassar o voto destes 54,5 milhões de eleitores”.
Certo.
Vamos explicar.
Não haverá terceiro turno porque não há terceiro turno previsto em lei, certo?
Quanto ao mais, diga-se o óbvio: se aparecer algum crime eleitoral que venha a ensejar a perda de mandato, reivindicá-la, deve concordar o ministro Toffoli, não é “terceiro turno”, mas exercício do Estado de Direito.
Se o crime aparecer, cassar o mandato é não é “terceiro turno”, mas exercício do Estado de Direito.
De resto, a sombra que se projeta sobre o mandato de Dilma não está na esfera eleitoral, mas criminal.
A propósito, doutor Toffoli: quando a Câmara dos Deputados aceitou a denúncia contra Fernando Collor por crime de responsabilidade, aquilo foi terceiro turno ou cumprimento da lei e da Constituição?