A presidente Dilma Rousseff está fechando o ano de 2014 numa situação curiosa: no momento em que se prepara para começar sua segunda e última temporada no Palácio do Planalto, está em viés de baixa, como se diz -- um caso raro de governo que ficou mais fraco, depois de ganhar uma reeleição, do que estava antes da vitória.
Esse início de segundo tempo, normalmente, marca o ponto mais alto a que um governo pode chegar.
No caso de Dilma, não está sendo assim: a presidente entrou em declínio antes de chegar ao auge, e parece destinada a passar direto da decepção que foi seu primeiro mandato à desesperança que existe em relação ao segundo.
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Ao longo dos seus primeiros quatro anos, o governo Dilma nunca chegou realmente a engrenar.
Nesse período, o crescimento da economia, uma necessidade absolutamente crítica para o Brasil, ficou em média na casa dos 2% ao ano, o segundo pior resultado desde a proclamação da República, em 1889.
Passou do saldo para o déficit nas exportações. A indústria, que alterna períodos de marcha lenta com períodos de marcha a ré, é menor hoje do que era quando Dilma assumiu a Presidênca.
Não há praticamente nada que esteja melhor agora do que estava no começo de 2011.
Em suma: o desempenho do governo começou a ratear antes de ganhar velocidade, e disso não saiu mais.
Hoje o Brasil roda a uma velocidade entre 0% e 1% de crescimento -- seu resultado de 2014 e provavelmente de 2015.
A presidente não tem nada de bom a anunciar para o ano que começa -- ao contrário, tem muita notícia ruim para dar, ou para esconder, e terá de tomar aquelas medidas amargas que, como dizia há pouco, seu adversário iria adotar se ganhasse.
Mais que tudo, Dilma não sabe, simplesmente, o que fazer a partir de 1° de janeiro para sair do atoleiro onde seu governo foi se meter -- se soubesse, por que raios não fez até agora o que deveria ter sido feito?
A única iniciativa que tomou depois da eleição foi armar uma fraude política para falsificar a realidade numérica do orçamento de 2014; obteve do Congresso, em troca do compromisso por escrito de dar dinheiro público aos parlamentares, uma licença para desrespeitar a lei.
Em matéria de mudança para o segundo mandato, teve apenas uma ideia, jamais mencionada durante a campanha: voltar a cobrar a CPMF, o imposto do cheque criado no governo Itamar Franco e extinto definitivamente pelo Senado sete anos atrás.
Fora isso, nada mais lhe ocorreu de útil.
Qual a surpresa, nessa miséria de propostas, soluções ou alternativas?
É um fato comprovado que a presidente da República não tem competência para fazer mais ou melhor do que tem feito; não há razão para imaginar que teria descoberto a luz, assim de repente, depois de ganhar a eleição.
Quem acha que essa afirmação é um exagero fica convidado a responder a uma pergunta bem simples: em que momento, em todos os seus quatro anos de governo, Dilma mostrou algum talento visível, ou teve uma boa ideia que mereça ser citada?
Que problema sério resolveu por sua capacidade própria?
Como economista formada, escreveu algum artigo que tenha causado admiração ou respeito?
Que tese, estudo, pesquisa ou pensamento original tem para apresentar?
O declínio de Dilma às vésperas de assumir seu segundo mandato não se manifesta apenas na falta de aptidão para governar.
Tão ruim quanto isso é o desmanche moral de seu governo quatro anos antes da data de vencimento.
Quase 70% dos brasileiros, na primeira pesquisa após as eleições, acham que a presidente está envolvida, em maior ou menor grau, nos episódios de corrupção na Petrobras.
Hoje os brasileiros sabem que Dilma é capaz de comprar abertamente os votos de deputados para escapar ao cumprimento daquilo que mandam as leis -- e se beneficia quando as galerias do Congresso são esvaziadas para que ela e seus agentes escapem de vaias.
Também sabem que nomeou para o Ministério da Fazenda um profissional do sistema financeiro -- depois de ter permitido que a propaganda de sua campanha destruísse a adversária Marina Silva, acusando-a, sem nenhuma comprovação, de favorecer os bancos caso fosse eleita.
Dilma, Lula e o PT já demonstraram de todas as formas possíveis que valores morais não têm lugar na política.
Sua pergunta não é: “Isso está certo?”.
O que interessa é outra coisa: “Dá para fazer?”.
É muito ruim, inclusive por razões estritamente práticas -- não há caso conhecido de governos bem-sucedidos que tenham desprezado a honra, a ética e a decência.