Suscita alguma frustração o discurso feito por Dilma Rousseff (PT), na quinta-feira (1), ao tomar posse em seu segundo mandato como presidente da República.
Não foram atendidas as expectativas de quem aguardava, em especial depois da nomeação da nova equipe econômica, o anúncio de medidas concretas para enfrentar a inflação e ampliar a transparência das contas públicas.
Admita-se que a ocasião não permitiria grandes mergulhos no detalhamento técnico, ainda mais em se tratando de providências impopulares no curto prazo.
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Mesmo assim, parece ter faltado à presidente a disposição para marcar com firmeza uma mudança de rumos cuja necessidade, na prática, o novo ministério reconhece.
Bem ao contrário, a maior parte das declarações de Dilma no campo da economia caracterizou-se por um espírito de comemoração próximo do que se transmitia durante a campanha eleitoral e alheio à dura realidade do país.
Verdade que, do ponto de vista retórico, a situação da presidente não lhe trazia facilidades.
Não haveria como renegar o que se fez ou deixou de fazer até aqui; não haveria como insistir no que, tacitamente, admite-se ter sido equivocado.
Diante do relativo impasse, que se resume no propósito de empreender ajustes sem sacrifícios, foi necessário que o discurso dilmista procurasse outros pontos capazes de dar uma direção simbólica aos próximos quatro anos.
Lançou-se então o slogan, algo reminiscente dos anos 1970, da "pátria educadora".
Descontado o que tenha de rigidez verde-amarelista, ou mesmo seus traços de palmatória cívica, o lema possui a qualidade de dar à questão do ensino a devida prioridade -- ao menos no plano das palavras, sempre mais fácil do que no das ações.
Talvez também faltem ações para levar adiante a renovada e sempre vaga promessa de empreender uma reforma política.
Note-se, de todo modo, que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi ainda mais enfático do que Dilma na admissão de sua urgência.
Somou-se a esse conjunto de intenções o anúncio de um sucinto pacote anticorrupção. Três pontos, portanto -- investimentos em educação, reforma política e defesa do patrimônio público --, que podem ocupar a Presidência num período em que a margem de manobra econômica é muito pequena.
A dificuldade do governo para a autocrítica e para romper seus compromissos com a fisiologia, a corrupção e a arrogância do PT e seus aliados não autorizam grande otimismo; mas nada indica que, da parte de Dilma Rousseff, não seja sincero o empenho em corresponder às promessas de seu discurso.