Uma boa ideia 04/01/2015
- Blog de Ricardo Setti - Veja.com
O novo ministro da Defesa, Jaques Wagner, ex-governador petista da Bahia, assumiu o cargo, recebendo-o do já ex-ministro Celso Amorim em solenidade em Brasília.
Em seu discurso, repleto de generalidades, Wagner assegurou que o governo Dilma tem compromisso com “Forças Armadas cada vez mais capacitadas, modernas e integradas.”
A ver.
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Não tocou em política em sua fala. Dias atrás, porém, ainda governador, cheio de dedos e pisando em ovos, o novo ministro da Defesa fez um discurso ao receber o relatório parcial da Comissão Estadual da Verdade de seu Estado em que defende que a “revisão histórica” do período da ditadura militar (1964-1985) seja feita em “movimentos suaves”, uma vez que “qualquer precipitação” (não deu exemplos) “não contribui” para esse processo.
Sendo o primeiro ex-sindicalista a estar à frente das Forças Armadas, possivelmente Wagner haja tomado cuidados especiais em seu discurso, tanto é que tirou o corpo fora diante da recomendação da comissão de que os crimes contra os direitos humanos cometidos durante a ditadura devem ser punidos, e que a Lei de Anistia, de 1979, deve ser revista.
Para ele, o tema não está no âmbito de seu novo ministério.
Está porém, absolutamente correto ao opinar que não se pode responsabilizar instituições do Estado por crimes cometidos por seus integrantes.
Mas o ponto do discurso em que gostaria de me deter é a passagem em que defende que sejam lembrados, além de militares e outros agentes públicos envolvidos com violações dos direitos humanos, líderes civis que apoiaram e se beneficiaram da ditadura.
Sua frase específica a respeito:
- É sonegador da verdade a gente não endereçar críticas duras a uma elite política, empresarial e jornalística que foi braço consolidador da ditadura e que se escondia atrás de quem tinha fuzil.
Ele não falou em punição para esses civis, mas apenas em “duras críticas” -- talvez porque, se der uma olhada para o governo Dilma e sua base de sustentação no Congresso, verá fisionomias familiares, que estiveram firmes ao lado da ditadura tanto quanto, agora, estão firmes no apoio ao governo petista.
Não preciso me estender muito a esse respeito, não é mesmo?
Basta lembrar que o czar-mor da economia durante o período militar, o ex-ministro e ex-deputado Delfim Netto, um dos signatários do Ato Institucional número 5 -- que instituiu o período mais negro de tirania no país desde a proclamação da República, em 1889 --, foi durante anos conselheiro e guru de ninguém menos do que Lula.
Se hoje Delfim, que é tudo menos bobo, se afastou do desastre sobretudo econômico que é o governo Dilma, isso não muda as coisas, até porque seu chefe político durante muitos anos, o deputado Paulo Maluf (PP-SP), é dilmista até a raiz dos cabelos.
Como é o senador Fernando Collor (PTB-AL) que, como deputado, votou em Maluf e contra Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985.
Sem esquecer, evidentemente, do senador José Sarney (PMDB-AP), sólido sustentáculo dos governos Lula e Dilma, que, como se recorda, foi presidente do PDS, o partido oficial do regime militar.
Wagner pode, portanto, começar quando quiser suas “duras críticas” a esse pessoal.
Já estão aí quatro nomes para ele incluir na relação dos criticáveis.