O Brasil sob velha direção 05/01/2015
- Carlos Brickmann - Observatório da Imprensa
Críticas ao Ministério de Dilma, vaias a alguns ministros na hora da posse, piadinhas sobre a convivência de acirrados adversários na mesma mesa.
Injustiça!
Dilma, a competenta, elaborou com rara habilidade seu projeto de reconciliação nacional.
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Juntou na mesma área Patrus Ananias, para quem Stalin provavelmente não passava de um reformista burguês, com Kátia Abreu, para quem Gengis Khan ou era comunista ou no mínimo complacente com os comunistas.Juntou políticos desconhecidos, como George Hilton, com políticos fartamente conhecidos, como Eliseu Padilha, que vem com o selo de qualidade do Governo Fernando Henrique.
Juntou candidatos derrotados com políticos que vencem até (e principalmente) quando o país perde. A cereja do bolo, talvez como símbolo do prometido combate à corrupção, é Helder Barbalho, derrotado nas urnas, filho querido de Jader (cuja carreira política envolveu renúncia, para escapar à cassação, e um período de prisão), um dos herdeiros daquele famoso ranário em que sobravam investimentos com dinheiro público e faltavam rãs.
E, no esforço de conciliação, Valdemar Costa Neto, então hóspede da Penitenciária da Papuda, foi quem negociou com o governo a nomeação do ministro dos Transportes. É bonito, ainda mais no 1º de Janeiro, Dia da Confraternização Universal, em que todos tomaram posse, ver que Dilma faz conviver herbívoros e carnívoros.
O sagaz Getúlio Vargas certa vez definiu um ministério com a seguinte frase: alguns ministros não são capazes de nada, e os outros são capazes de tudo.
Cena de um dia festivo 1
O velho ministro da Fazenda, Guido Mantega, não compareceu à nova posse da presidente. Mas não houve fofocas: por sorte, ninguém percebeu.
Cena de um dia festivo 2
O novo ministro dos Esportes, George Hilton, foi barrado na portaria do Congresso. Ninguém o conhecia. Hilton é deputado federal há oito anos, desde 2006, ocupando o gabinete 843 do Anexo 4. Os seguranças devem ser muito distraídos.
Cena de um dia festivo 3
George Hilton foi um dos ministros vaiados durante a cerimônia de posse. Mas não deve ter ficado triste: isso demonstra que ao menos ali o reconheceram.
Cena triste de um dia festivo
O colunista James Akel, atento, notou que Marco Aurélio Garcia, Edison Lobão, Gilberto Carvalho e Alexandre Padilha passeavam sozinhos pelo salão, durante a posse, sem ninguém sequer os cumprimentasse. O então secretário de Estado americano Henry Kissinger disse certa vez que o poder é afrodisíaco. É possível imaginar, então, que a perda do poder tenha o efeito exatamente contrário.