Somos todos franceses 08/01/2015
- Blog de Caio Blinder - Veja.com
Somos todos franceses e devemos ser irreverentes em solidariedade ao Charlie Hebdo.
O que aconteceu em Paris ontem foi um horror. Não podemos ter uma atitude blasé, mas c’est la vie.
Ela continua e é assim que se resiste contra a barbárie. Cada um no seu metier.
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O semanário Charlie Hebdo foi alvo de um ataque fatal, mas deve se reerguer.
Sua raison d’etre é fazer chacota de instituições políticas, sociais e religiosas.
Na verdade, o ataque terrorista foi contra a raison d’etre da França.
O Charlie Hebdo é uma instituição do país, apesar de suas dificuldades financeiras, que o levou a pedir doações em novembro (dificuldades financeiras são coisas da vida da imprensa e da França).
Puxa vida, charge é uma palavra francesa.
Francês tem uma tradição de ir às ruas protestar.
Allez!
Está indo e também ocupando a praça digital com o hashtag #JeSuisCharlie.
Esta praça digital é global.
O 7 de janeiro é o 11 de setembro dos franceses.
Na verdade, é mais uma daquelas datas que devem ser lembradas para sempre como de infâmia.
A cada ano, deverá ser marcada, como em outras datas e grandes cidades da civilização que foram alvos do terror islâmico nos últimos anos (Nova York, Washington, Madrid, Londres, Jerusalém, Ottawa, Sydney….)
Como já disse, foi um daqueles dias em que todos nós fomos atacados.
Indo além, o 7 de janeiro é o 11 de setembro da Europa, embora em outros atentados, como Madrid e Londres, mais gente tenha morrido do que agora em Paris.
Infame nestes dias é condenar o Charlie Hedbo por ter cutucado a onça com vara curta ou ter coçado as longas barbas do profeta Maomé.
Nestes dias ser fundamentalista é expressar solidariedade às liberdades fundamentais, como o direito de ofender de um punhado de cartunistas (os que sobreviveram ao ataque da barbárie).
Os outros fundamentalistas (religiosos ou políticos) não têm senso de humor.
Devem, portanto, serem atacados com mais humor ainda pelos humoristas.
Esta é uma temporada infame.
O ditatorzinho nuclear norte-coreano ficou nervosinho com as chacotas juvenis do filme A Entrevista.
Extremistas islâmicos há anos estão apopléticos com as boutades da imprensa, seja na França, seja na Dinamarca.
Estes bravos pistoleiros do humor devem ser protegidos literalmente e contar com nossa solidariedade, mesmo quando discordamos do trabalho deles.
C’est la vie.
Mais atentados virão.
Não é preciso ser profeta do apocalipse para fazer esta previsão agourenta.
Repito o que disse na coluna, no calor dos acontecimentos em Paris:
“Temos uma guerra em muitas frentes. De novo, precisamos estar vigilantes e combater sem tréguas os agentes da intolerância, mas devemos também preservar a tolerância. Este paradoxo é que nos faz civilizados”.
Eu arremato dizendo esperar que o 7 de janeiro seja um divisor de águas nas comunidades islâmicas em todas as partes para que se empenhem com mais vigor para combater estes maníacos terroristas e mal-humorados que são rebentos destas comunidades.
Em uma tragédia descomunal, vemos ao menos os pequenos passos, como a declaração de Dalil Boubakeur, imã da grande mesquita de Paris, de que o que aconteceu na quarta-feira foi uma “estrondosa declaração de guerra.
Os tempos mudaram. Nós estamos entrando em uma nova fase deste confronto… nós estamos horrorizados com a brutalidade e a selvageria”.
Retifico: arremato com irreverência contra a brutalidade e a selvageria.