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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Religião provoca violência?
10/01/2015 - Blog de Leandro Narloch - Veja.com

Nos últimos dez anos, 101 torcedores morreram em brigas de estádio no Brasil.

O número é cinco vezes o de mortos em ataques de terroristas muçulmanos na França e o dobro das vítimas da Inglaterra no mesmo período.

Podemos então dizer que esporte mata? Que o futebol provoca violência?


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Pois é exatamente o que fazemos quando culpamos a religião pelo terrorismo.

A crueldade do ataque aos jornalistas do Charlie Hebdo faz muita gente ligar os pontos e afirmar que religião causa violência.

Gente graúda pensa assim -- como Richard Dawkins, na minha opinião um dos gênios vivos da ciência.

Também parece haver bons argumentos para essa ideia.

As cruzadas, as carnificinas entre protestantes e católicos nos séculos 16 e 17, os conflitos entre hindus e muçulmanos na Índia: banhos de sangue em nome da fé são frequentes na história.

Mas isso é um mito.

Religião não provoca violência, ou melhor: provoca tanta violência quanto qualquer identidade de grupo.

O homem mata em nome da fé, mas também em nome de ideologias políticas, da nação, de etnias, da escolha sexual, do estilo de roupas e músicas (como as gangues de Nova York dos anos 80) ou em nome de times de futebol.

O problema não é a religião, mas a tendência humana à hostilidade entre grupos.

Para entender esse padrão é preciso ir longe -- até o momento em que violência entrou para o repertório de comportamentos humanos, há algumas centenas de milhares de anos.

Nas savanas da África, onde o homem passou 90% de sua história evolutiva, ficar sozinho não era uma boa ideia.

Significava estar vulnerável a animais ferozes e a ataques de tribos vizinhas.

A solidão também resultava em fome, pois a caça de grandes animais da megafauna (o big game) exigia ação coletiva e coordenada.

Para sobreviver e ter filhos, era preciso pertencer a um grupo.

Fechar um “pacto ou conspiração baseada em interesses mútuos de longo prazo”, como diz o próprio Dawkins em "O Gene Egoísta".

Mas pertencer a um grupo não bastava.

Os genes tinham mais chances de se perpetuar se o indivíduo participasse de uma coalização vencedora.

Grupos mais harmônicos e cooperativos, que armavam emboscadas com maestria, construíam boas ferramentas e abatiam o inimigo sem piedade, superavam grupos humanos desunidos.

A evolução favoreceu, assim, a tendência a dois comportamentos opostos.

Entre os membros do grupo, ganhou o páreo o indivíduo capaz de sentir emoções que possibilitavam a cooperação.

É o caso da compaixão, a satisfação em fazer amigos, a noção de culpa (sentimento que nos empurra para reparação e conciliação com o grupo), a vontade de castigar quem não coopera, a obsessão humana com a reputação, o medo de ficar sozinho.

Ao mesmo tempo, emergiu a tendência à hostilidade e à violência contra grupos rivais.

É o que os biólogos chamam de “altruísmo paroquial”.

Basta uma olhadela na história mundial para perceber que boa parte dela se resume a hordas, gangues, tropas, tribos, times, bandos, exércitos -- enfim, coalizões de homens jovens cooperando entre si -- lutando contra outras coalizões de homens jovens.

A religião, nessa história, é mais um pretexto para justificar uma antiga tendência humana ao antagonismo entre grupos.

Não nego que algumas crenças incitem os fiéis à violência e sejam mais problemáticas que outras.

Mas achar que guerras e atentados diminuiriam se as religiões acabassem é ser otimista demais com o homem.

Como mostrou o século 20, não é preciso religião para haver massacres e genocídios.


  

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