A tese impossível 04/02/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
É possível que, até agora, eu não tenha me feito entender, mas eu sou mais chatinho do que o Pequeno Príncipe, e jamais desisto de uma questão. Então vamos ver.
Todas as ações penais que correm na 13ª Vara Federal de Curitiba estão atreladas a uma tese: as empreiteiras formaram um cartel para corromper “agentes públicos” na Petrobras.
Os nomes dos políticos com mandato eventualmente envolvidos nas falcatruas são enviados ao Supremo Tribunal Federal pelo Ministério Público.
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Infiro, prestem atenção!, que parte considerável do PT -- e o núcleo ligado à presidente Dilma em particular -- está satisfeito com essa, digamos, divisão.
Não se fala nome de político com mandato na presença do juiz Sérgio Moro.
Isso é para outra instância. Estes chegam ao Supremo pelas mãos do MP.
Parece que o juiz e o MP se atribuíram uma missão: “Aqui, nós vamos punir os corruptores da Petrobras”.
Tudo indica que o objetivo é manter os empresários presos até que admitam o crime de cartel.
Se isso acontecer, então Justiça e Ministério Público dão por cumprida a sua missão.
Qual é o problema dessa tese?
Ela favorece, obviamente, os políticos larápios.
Sim, talvez o Supremo se encarregue deles, vamos ver, mas estará consolidada uma farsa monumental: a de que as empreiteiras cometeram crimes que não estavam necessariamente conectados com a política.
E isso simplesmente não aconteceu.
A tese do “cartel”, diga-se, é um tanto cediça.
Se existia, por que as empresas negociavam caso a caso com a quadrilha?
Esse dito cartel, ou o que tenha existido, poderia ter operado sem os políticos na outra ponta -- e sem um grupo político em particular: o PT?
Resta evidente, a esta altura, que, no meio da sem-vergonhice, houve de tudo: caixa dois de campanha, roubalheira pura e simples, ladrão roubando ladrão… Sabem como é…
Ocorre que o que se dava na Petrobras era uma das pontas de um projeto de poder.
E, tudo o mais constante, as coisas caminham para uma outra conclusão: um grupo de empreiteiros gananciosos resolveu usar a estatal para maximizar lucros, corrompendo agentes públicos.
Com todo respeito, é história da carochinha.
Qual é o outro problema dessa leitura?
Ignora-se a natureza do jogo.
Já chamei aqui a atenção para este risco e o faço de novo: está começando a se perder de vista a evidência de que havia -- ou há -- uma inteligência política no gigantesco esquema de fraude que operava na Petrobras e, infiro a exemplo de qualquer pessoa razoável, em outras áreas também.
Dada a forma como as coisas caminham até aqui, quem ainda acaba livrando a cara no fim da história é o PT.
Insisto: é pura fantasia -- se não for condução da investigação -- a suposição de que se pode separar a ação das empreiteiras do esquema político ao qual elas serviam -- e, sim, do qual se serviam.
Se os delatores e testemunhas estivessem dando nome e sobrenome de políticos, é possível que tudo tivesse de ser enviado ao Supremo, mas a narrativa seria mais compatível com a realidade.
É preciso tomar cuidado para que, nesse caso, o dito rigor de Moro e do MP, que tanto encanta a imprensa, não acabe servindo à impunidade de… petistas.