Onde está Lula, o falastrão? 06/02/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Aos poucos, as coisas começam a assumir a sua real natureza.
O conteúdo do depoimento de Pedro Barusco, que veio a público, põe as coisas nos seus devidos termos.
Até havia pouco, parecia que um grupo de empreiteiras malvadas havia se organizado para corromper agentes públicos antes probos, que caíram em tentação.
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Segundo Barusco afirmou à Justiça em novembro, João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, arrecadou em propina, entre 2003 e 2013, algo entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões.
Não, senhores! Vaccari não é um homem de grandes ambições pessoais.
Ele trabalha para uma máquina chamada PT.
Desde sempre, afirmo neste blog que tratar o escândalo do petrolão como mera formação de cartel de empreiteiras corresponde a ignorar a natureza do jogo.
Um ente de razão, um partido, tomou de assalto o estado brasileiro.
É possível que ladrões sem ideologia tenham se imiscuído no sistema, mas que não se perca de vista o principal: a safadeza alimentava e alimenta um projeto de poder.
Segundo Barusco, 21 contratos para a construção de navios equipados com sondas, por exemplo, orçados em US$ 22 bilhões, pagaram propina de 1%, assim distribuídos: dois terços para Vaccari (isto é, para o PT) e um terço dividido entre Paulo Roberto Costa e agentes da Sete Brasil.
A Sete Brasil é a empresa criada para desenvolver os tais navios-sonda e garantir o chamado “conteúdo nacional” no setor.
A empresa está à beira da insolvência. Dilma quer R$ 9 bilhões de dinheiro público para socorrê-la.
Ontem, o presidente do PT, Rui Falcão, veio a público para defender essa política de “conteúdo nacional”, afirmando que as diretrizes da Petrobras não podem mudar.
Ah, sim: Barusco foi diretor de operações da Sete entre 2011 e 2013.
Por que eu tendo a resistir, senhores leitores, à tese do cartel de empreiteiras atuando na Petrobras?
Porque isso embute a ideia de que a roubalheira se concentrava na estatal; porque sobra a sugestão de que meliantes morais incrustrados na empresa partiram para a delinquência.
Que o tenham feito, não duvido.
Mas será só ali?
As mesmas empreiteiras que trabalham para a Petrobras atuam em outras áreas do governo.
São elas, afinal de contas, que prestam os serviços na área de infraestrutura.
Então será diferente nos outros setores da administração pública?
A moralidade vigente na Petrobras não será a regra?
E noto que a empresa dispõe de mecanismos de controle mais severos do que os das demais estatais e os dos ministérios.
O Brasil está na pindaíba.
Incompetência e ladroagem se juntaram contra os cofres públicos.
E então cabe a pergunta: onde está Luiz Inácio Lula da Silva, aquele que recomendou que os petistas andassem, orgulhosos, de cabeça erguida?
De cabeça erguida?
Os agentes federais tiveram de pular o muro da casa de Vaccari para levá-lo para depor.
Ele não abria a porta.
Imagino a sua indignação.
Talvez se perguntasse: “Mas, afinal, o Brasil é ou não é nosso?”.