Já dá para ouvir o 15 de março 27/02/2015
- Reinaldo Azevedo - Folha de S.Paulo
"Soc, poft, pow! Coxinha. Golpista!"
Eis o som presente do mar futuro de gente nas ruas no próximo dia 15.
Ali vão as onomatopeias e vitupérios produzidos pelos milicianos petistas contra pessoas comuns, que pagam impostos e estão cansadas de ser roubadas.
Pois é... Os companheiros acham que chegou a hora de nos pegar na porrada.
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Na segunda, enquanto Lula e seus "tontons macoute" faziam um ato "em defesa da Petrobras", no Rio -- o que supõe distribuir sopapos didáticos para ensinar a essa brasileirada o valor do patriotismo --, a Moody's anunciava o rebaixamento da nota da estatal.
Bastava que caísse um degrau para passar do azul para o vermelho, do grau de investimento para o especulativo.
Mas a agência empurrou a empresa escada abaixo: a queda foi logo de dois -- e ainda com viés negativo.
A presidente Dilma Rousseff, com a clarividência habitual, atribuiu a decisão "à falta de conhecimento".
É verdade. A agência, o mercado e todo mundo desconhecem, por exemplo, o balanço da empresa.
O que se dá como certo é que o governo indicou uma diretoria para o exercício da contabilidade criativa, com Aldemir "Hellôôô" Bendine à frente.
A crise, no Brasil, também é brega.
A realidade ganhava, assim, traços de caricatura, de narrativa barata, de roteiro de filme de segunda linha.
Enquanto Lula, o grande sacerdote do modelo que levou a Petrobras ao desastre, oficiava na ABI mais uma de suas missas macabras, disparando contra elites imaginárias, a empresa passava a arcar com mais um custo das forças malignas que ele conjurava.
Havia pouco, Paulo Okamotto, o sócio do Babalorixá de Banânia, explicara em entrevista como o partido lida com as empreiteiras:
"Funciona assim: 'Você está ganhando dinheiro? Estou. Você pode dar um pouquinho do seu lucro para o PT? Posso, não posso.'"
Das expressões ou palavras que criei para definir esses seres exóticos, "petralha" é a mais popular, mas não é a de que mais me orgulho.
Gosto mesmo é de "burguesia do capital alheio", que é como chamo os companheiros desde meados da década de 90, antes ainda de sua ascensão, quando fingiam ares de resistência.
Sempre me impressionou a facilidade com que se insinuavam nas estruturas do Estado e das empresas privadas e passavam a ser beneficiários do esforço de terceiros.
Voltem lá a Okamotto.
Jamais lhe ocorreria indagar se os empresários podem dar um pouco do seu risco ao PT.
O partido se apropria é de uma parte do lucro.
A expressão que criei serve para designar o petismo, mas poderia definir a máfia.
O modelo entrou em colapso.
Se Dilma será ou não impichada, não sei.
Como escrevi nesta Folha, golpe é rasgar a lei e a Constituição democraticamente pactuadas.
O que dá para saber, e isto é certo, é que a pantomima petista chegou ao fim.
O custo é imenso.
E vai cobrar a fatura de gerações, podem escrever.
As ruas vêm aí, e Lula, o irresponsável da segunda-feira, com seus milicianos, nada pode fazer pela governanta.
Ao contrário: é ele, hoje, quem a desestabiliza.
A presidente tem de se escorar no braço de Eduardo Cunha e repetir Blanche DuBois, a doidona de "Um Bonde Chamado Desejo", quando decide seguir pacificamente para o hospício, em companhia de um alienista:
"Seja você quem for, eu sempre dependi da boa vontade de estranhos".