capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 24/09/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.757.816 pageviews  

Curto&Grosso O que ainda será manchete

O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Os fundamentalistas
07/03/2015 - Demétrio Magnoli*

"Nós dois lemos a Bíblia dia e noite, mas tu lês negro onde eu leio branco".

Joaquim Levy deveria tomar emprestada a frase de William Blake para sintetizar suas relações com o antecessor, Guido Mantega.

Os evangelhos da Igreja da Expansão Fiscal, de Mantega, dizem que o desenvolvimento nasce do endividamento público.


PUBLICIDADE


Já os evangelhos da Igreja da Ortodoxia Fiscal, de Levy, asseguram que, pelo contrário, o desenvolvimento emana do equilíbrio das contas públicas.

Dilma Rousseff, a exterminadora do futuro, trocou um fundamentalismo por outro, complementar.

Desenvolvimento é aumento da produtividade econômica sistêmica, ou seja, da capacidade social de produzir riqueza.

A política fiscal não passa de um instrumento, entre outros, para sustentar (ou sabotar) o incremento da produtividade.

Os arautos da Igreja da Expansão Fiscal entregam-se à propaganda enganosa quando sustentam que o governo adotou a política econômica dos candidatos da oposição nas eleições presidenciais.

Os conselheiros econômicos de Aécio e de Marina propunham uma série de reformas destinadas a reativar o crescimento pela ponta dos investimentos.

Um ajuste fiscal escalonado ao longo do tempo funcionaria apenas como amparo da nova política econômica.

Nada a ver com a recessão inútil engendrada pelo governo.

No mundo invertido do lulopetismo, o governo fez política fiscal expansionista na etapa ascendente do ciclo (2010) e, como consequência, faz política fiscal contracionista na etapa cadente do ciclo (2015).

O ajuste fiscal, na hora errada, tornou-se compulsório -- mas, mesmo assim, não seria preciso praticar a cirurgia sem assepsia.

Dilma gosta da palavra "rudimentar", empregada há pouco por Levy. É o melhor qualificativo para as políticas econômicas simétricas de seus dois mandatos.

Levy age como um secretário do Tesouro, não um ministro da Fazenda.

Sob a sua batuta, cortes de despesas e escorchantes aumentos de tributos e preços administrados converteram-se em finalidades de política econômica.

A recessão provocada por sua insensata ofensiva fiscalista reduzirá as receitas e, no fim, o "sucesso" do ajuste derivará essencialmente da alta da inflação.

A receita da Igreja da Ortodoxia Fiscal não serve ao país, mas amolda-se ao projeto eleitoral de Lula, que prevê a reativação da farra fiscal "manteguiana" nos anos derradeiros de Dilma 2.

As vacas sagradas do lulopetismo não saíram do pasto.

O governo suga o sangue dos outros, mas não sinaliza um corte radical nos cargos de nomeação política.

A Petrobras venderá patrimônio na bacia das almas, mas aferra-se ao inviável regime de partilha.

Enquanto a Fazenda fecha a torneira do déficit público, o BNDES prepara-se para reabrir a torneira da dívida pública, salvando a Sete Brasil e as empreiteiras do "petrolão".

O sumo pontífice da austeridade fiscal é um Gilberto Kassab das finanças: o pistoleiro liberal contratado pelo estatismo populista.

O motor da economia são as expectativas.

Um ajuste fiscal inscrito numa política de reformas de longo prazo poderia reconstruir a confiança e estimular investimentos.

O ajuste pró-cíclico de Levy, uma bandeira cravada na superfície lunar do "dilmismo", só aprofundará a recessão inevitável.

A maioria da bancada parlamentar petista diz que votará contra os pacotes do ajuste.

O Congresso deveria, por bons motivos, fazer o que, por maus motivos, os petistas simulam que farão.

"Se os economistas conseguirem se fazer vistos como pessoas humildes e competentes, no nível dos dentistas, isso seria esplêndido!", escreveu John Maynard Keynes em 1930.

Ele queria dizer que a política econômica não existe para confirmar, ou desmentir, os dogmas dos economistas, mas para afastar-nos da miséria, da carência e do desespero.

Mantega e Levy, sacerdotes de igrejas vizinhas, não tratam cáries: arrancam dentes.


...

*Demétrio Magnoli, doutor em geografia humana, é especialista em política internacional.

  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
14/08/2023 - NONO NONO NONO NONO
11/08/2023 - FRASES FAMOSAS
10/08/2023 - CAIXA REGISTRADORA
09/08/2023 - MINHAS AVÓS
08/08/2023 - YSANI KALAPALO
07/08/2023 - OS TRÊS GARÇONS
06/08/2023 - O BOLICHO
05/08/2023 - EXCESSO DE NOTÍCIAS
04/08/2023 - GUARANÁ RALADO
03/08/2023 - AS FOTOS DAS ILUSTRAÇÕES DOS MEUS TEXTOS
02/08/2023 - GERAÇÕES
01/08/2023 - Visitas surpresas da minha terceira geração
31/07/2023 - PREMONIÇÃO OU SEXTO SENTIDO
30/07/2023 - A COSTUREIRA
29/07/2023 - Conversa de bisnetas
28/07/2023 - PENSAR NO PASSADO
27/07/2023 - SE A CIÊNCIA NOS AJUDAR
26/07/2023 - PESQUISANDO
25/07/2023 - A História Escrita e Oral
24/07/2023 - ESTÃO ACABANDO OS ACREANOS FAMOSOS

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques