Devagar com o andor 10/03/2015
- Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Concordando-se ou não com os manifestantes, Dilma Rousseff deu motivo para as vaias, o buzinaço e as paneladas de domingo.
A presidente mentiu na campanha, nomeou um ministério que envergonhou seus próprios eleitores e sumiu na hora das más notícias. Reapareceu com um pronunciamento fraco e palavroso, sem qualquer autocrítica sobre os erros do governo.
Em longos 15 minutos, Dilma repetiu a ladainha da "crise internacional", recurso batido para se eximir de culpa pelos problemas.
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Abusou dos eufemismos ao chamar cortes duros de "correções e ajustes".
E avisou que vai "dividir o esforço" com a sociedade, sem ter feito sua parte para reduzir o gasto público.
Por fim, disse que "não havia como prever" a duração da crise.
Nem parecia a candidata que, há poucos meses, negava a realidade e chamava de "pessimildo" quem alertava para o descontrole nas contas públicas.
Pior que o discurso, só a escolha da data para ir à TV.
Na sexta-feira, a lista de Janot havia empurrado a bomba para o Congresso.
Em apenas dois dias, Dilma trouxe-a de volta ao seu colo.
O foco da crise voltou a ser ela, e não as acusações contra os presidentes da Câmara e do Senado.
A reação do PT ao panelaço foi tão desastrosa quanto o pronunciamento.
Um dirigente do partido falou em "orquestração golpista" da "burguesia" e desqualificou os manifestantes, como se todos fossem marionetes da oposição.
Quem estava insatisfeito e não foi à janela ganhou novo estímulo para sair de casa no dia 15.
Apesar da incrível sequência de erros, nada justifica a tentativa de direcionar os novos protestos para um processo de impeachment.
Dilma acaba de ser reeleita nas urnas e ainda não há, segundo o ministro Teori Zavascki, "indícios mínimos" de que tenha entrado na farra do petrolão.
Afastar um presidente é coisa séria. Ainda mais quando estão na linha sucessória dois políticos suspeitos de receber propina do esquema que varreu os cofres da Petrobras.