Que assim seja! 10/03/2015
- Benjamin Steinbruch - Folha de S.Paulo
O ano vai seguindo com uma cara muito feia. A despeito do aumento da taxa básica de juros para inacreditáveis 12,75%, num mundo de taxas negativas, a inflação subiu para quase 8%, impulsionada pelo realismo tarifário.
A indústria, como comentei em artigo anterior, está em frangalhos: reduziu produção e empregos. Caem as vendas do comércio varejista.
O país perdeu mais de 81 mil vagas de emprego no primeiro mês do ano.
PUBLICIDADE
A receita do governo, apesar do fim de desonerações de alguns tributos, também caiu em janeiro.
As exportações não avançam, a balança comercial voltou a ter deficit e, apesar disso, o benefício fiscal dos exportadores, conhecido como Reintegra, foi reduzido.
A crise da Petrobras se aprofunda e paralisa negócios em toda a cadeia do setor.
A crise hídrica, mesmo com as chuvas generosas de fevereiro, ainda está na dependência das águas de março para ser apenas atenuada.
Pode faltar energia nos meses secos, mesmo com a demanda fraquíssima do setor industrial.
O aumento de impostos já é uma marca da nova administração do governo. Num só golpe de tesoura, praticamente foi abandonado todo um programa de desonerações de folha de pagamento, que tinha algumas incoerências, mas também uma virtude incontestável, de estimular o emprego por premiar as empresas intensivas no uso da mão de obra.
Houve reações a essa medida no Congresso. Os partidos políticos não se entendem, e muitos parlamentares, mesmo sendo da base governista, parecem estar desconfortáveis com tudo isso.
Nunca fui pessimista com o Brasil. Confesso, porém, que, a esta altura, temo que 2015 venha a ser um ano de recessão aguda.
Nem quero arriscar um número para o PIB porque poderia ser tachado de terrorista, mas, no ritmo atual da carruagem, caminhamos para um desastre econômico que dificilmente será esquecido.
Como poderemos explicar a nossos filhos e netos no futuro, venham eles a ser economistas ou não, que num momento como este vivido em 2015 a taxa básica de juros foi ainda mais elevada no país, de 12,25% para 12,75%, enquanto no resto do mundo as taxas eram próximas de zero ou mesmo negativas?
O PIB deste ano também será negativo, ninguém duvida.
Aliás, vale aqui um comentário sobre uma conversa que já esteve na moda nos anos 1970 e que volta agora a ganhar algum espaço por influência europeia: a do decrescimento econômico.
A teoria parte da ideia correta de que a Terra não pode sustentar um crescimento econômico contínuo e infinito, pela simples razão de que os recursos do planeta são finitos.
Essas ideias são bem-vindas em face da grande preocupação global com os problemas ambientais e a sustentabilidade do planeta. Mas não fazem muito sentido em países pobres como o Brasil.
Parar de crescer ou decrescer pode ser viável para países já desenvolvidos, que tem uma renda per capita alta de US$ 70 mil, US$ 80 mil, US$ 90 mil por ano.
Mas não serve para o Brasil e para qualquer outro país pobre ou emergente.
No Brasil, a renda per capita era de uns US$ 13 mil no ano passado. Ou seja, mesmo se conseguíssemos o milagre de promover a mais equânime distribuição de renda da história, sem crescimento econômico os brasileiros permaneceriam todos pobres/remediados.
A economia do país precisa continuar a crescer para enriquecer as famílias e dar a elas bem-estar.
A recessão que pode ocorrer neste ano no Brasil é uma palavra a ser execrada por todos os brasileiros.
O crescimento do PIB proporciona a criação de novos empregos ao mesmo tempo em que se permite uma melhor distribuição da renda nacional.
Crescer não é um modismo. É uma necessidade. O ajuste fiscal também é necessário, porque há momentos, como nas guerras, em que algum recuo estratégico pode ser útil para rearticulação e retomada da ofensiva mais tarde.
Mas as medidas de ajuste estão sendo tomadas com mão pesada demais e exigirão sacrifícios muito grandes da população em geral, principalmente os mais pobres.
Por isso, é bom lembrar, recessões são politicamente insustentáveis.
Em momentos como este, o país precisa de união nacional, e não de conflito.