Cid Gomes já vai tarde! 19/03/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Um governo chega, às vezes, ao grau zero da articulação.
Foi o que se viu ontem com o espetáculo patético protagonizado por Cid Gomes (PROS), em boa hora já ex-ministro da Educação.
Numa palestra, o homem disse haver 300 achacadores no Congresso.
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Ainda que houvesse 400, na democracia, quando um ministro de Estado diz algo assim, está obrigado a dar os nomes.
Obviamente não tenho a menor simpatia por um ataque ao Legislativo bucéfalo como esse.
Ele me remete aos “300 picaretas” que Lula dizia existir no Parlamento brasileiro em 1993.
Ganhou até uma música de um grupo de rock.
Vinte e dois anos depois, o PT está no 13º ano de poder e já tem nas costas o mensalão e o petrolão.
Ademais, quem é Cid para falar?
Não ocupava a pasta em razão de alguma especial inclinação para a área.
Estava lá em razão de um acordo político.
O ministério lhe foi dado para beneficiar o tal PROS, um partido surgido do nada -- do troca-troca indecoroso que a legislação permite --, com o único propósito de participar dos despojos da balcanização que toma conta da política brasileira.
O Cid que foi demitido nunca deveria ter sido convidado.
É evidente que o homem deveria se desculpar.
Em vez disso, resolveu ter um chilique e enfiar o dedo na cara do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de quem ele tem o direito de não gostar.
Mas deve respeito à função institucional do outro, ora essa!
Daqui do meu conservadorismo, pouco me importam disposições subjetivas e esferas de opinião.
A instituição tem de ser preservada.
O fato de haver um pedido de inquérito para investigar Cunha não dá a um ministro de Estado o direito se portar como um vândalo.
E aconteceu, então, o inédito.
Tão logo Cid deixou o Congresso, com uma claque importada do Ceará a acompanhá-lo, Cunha foi ao Palácio do Planalto e voltou com o anúncio: o homem tinha sido demitido.
Na verdade, ele sabia que já chegara com o emprego por um fio.
Mas sabem como é… Os Gomes, do Principado de Sobral, nunca se dobram nem -- ou muito especialmente -- às regras do decoro.
Nunca se tinha visto nada parecido.
Dilma ficou, obviamente, sem opção.
O PMDB avisou: se Cid Gomes ficasse no cargo, o partido abandonaria o barco do governo.
É evidente que Dilma não precisava de mais essa crise.
Cid sai em meio à lambança no Fies, o programa que financia o terceiro grau em instituições privadas, que alcança agora cifras estratosféricas.
Foi um espetáculo patético.
Cid foi demitido, na prática, por Cunha -- e muito bem demitido, diga-se.
Saiu de lá em seu próprio carro, aplaudido por aqueles que havia levado para aplaudi-lo.