Imposto e escravidão 21/03/2015
- Hélio Schwartsman - Folha de S.Paulo
Para todo problema complexo existe uma solução clara, simples e errada."
A frase do jornalista americano HL Mencken me veio à cabeça por causa da ideia de criar um imposto sobre fortunas para resolver nosso problema fiscal.
À primeira vista, a proposta parece perfeita, já que serviria, de uma só vez, para nos tirar da lama e produzir mais justiça social.
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À segunda vista, porém, as coisas não são tão simples.
A literatura sugere que esse tipo de tributação pode ser um tiro pela culatra, já que estimula a fuga de capitais, inibe investimentos externos e, de quebra, arrecada pouco.
Estudo de 2008 de Éric Pichet estimou que o imposto sobre fortunas da França custa ao Estado o dobro do que arrecada.
Não é uma coincidência que, no último par de décadas, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Áustria, Finlândia e Luxemburgo tenham desistido de cobrar esse imposto.
Como o Brasil é bem diferente das social-democracias europeias, é possível que as coisas funcionassem melhor por aqui.
Mas a resposta a essas questões econômicas deve ser empírica -- funciona ou não funciona? -- e não moral, ou faremos bobagem.
E, já que mencionei a moral, não resisto a reproduzir muito sumariamente o argumento do filósofo Robert Nozick contra a distribuição de renda.
Para Nozick, cada um de nós tem autoridade soberana sobre si mesmo, seu corpo, habilidades e os frutos de seu trabalho.
Só um argumento desse tipo possibilita rejeitar moralmente a escravidão. De outra forma, ela seria aceitável, desde que os escravos fossem bem tratados.
Tal soberania implica que qualquer taxação é indistinguível do roubo.
A única forma moral de justificar o Estado são contribuições voluntárias em troca de serviços prestados.
Para Nozick, o que restaria é um Estado mínimo que promova itens básicos como segurança e Judiciário.
O resto, diz ele, equivale a escravidão.
Mesmo que não concordemos com a tese, ela dá o que pensar.