O PT quer ser, a um só tempo, o mal é o remédio. É patético! 24/03/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Agora João Vaccari Neto, ainda tesoureiro do PT, e Renato Duque, o homem de José Dirceu -- o mais eficiente "consultor" da Terra -- que era diretor de Serviços da Petrobras, já são réus.
O juiz Sérgio Moro aceitou a denúncia contra a dupla, oferecida pelo Ministério Público. Os dois e outras 25 pessoas são acusados de corrupção e lavagem de dinheiro. Duque e outros 14 são acusados ainda de formação de quadrilha.
Segundo a apuração, parte da propina foi paga a Vaccari na forma de doações legais, entre 2008 e 2010 -- o que significa que a campanha de Dilma Rousseff pode ter recebido recursos da Petrobras.
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Essa denúncia está centrada em irregularidades em dois gasodutos e nas obras nas refinarias de Paulínia (SP) e Araucária (PR), todas afeitas à área então comandada por Duque.
A roubalheira, no caso, está estimada em R$ 136 milhões.
Moro acatou a afirmação do Ministério Público segundo a qual o tesoureiro do PT sabia que a doação oficial tinha origem em propina.
Pois é… Cresce a pressão no partido para que Vaccari abandone a tesouraria da legenda, o que ele, até agora, se nega a fazer.
O desconforto no Palácio do Planalto também é grande. A avaliação é que a permanência do homem no posto deixa Dilma mais perto da crise.
Afinal, ela é filiada ao PT, e este é um governo principalmente do… PT!
Como ter no comando de área tão sensível alguém que, agora, já é réu, contra quem existe uma penca de testemunhos?
No passado, com Delúbio Soares, a coisa foi resolvida com mais celeridade. Vaccari está há um ano na mira e nada de se mover.
Água suja com a criancinha
Pois é… Aos poucos, vai se firmando uma espécie de doxa, de verdade inquestionável, que, por incrível que pareça, converge para uma tese defendida pelo PT.
Explico. Vaccari, como se lê acima, recebeu, segundo o Ministério Público, doações oficiais decorrentes do pagamento de propina.
Augusto Mendonça, do grupo Setal, entregou à Justiça Federal recebos de doações feitas ao PT entre 2008 e 2012.
Na aparência, tudo legal. De fato, afirma, era dinheiro decorrente de… propina.
Usava-se, assim, o instrumento da doação legal para esconder o assalto aos cofres da Petrobras.
Ora, diante de um quadro como esse, é grande a tentação de concluir que a doação legal de empresas é a mãe da safadeza, certo?
É o que sustenta o PT, que quer extingui-la em sua proposta de reforma política.
É o que defende em entrevista à Folha nesta terça Beto Vasconcelos, novo secretário nacional de Justiça, que acena com a possibilidade da doação feita apenas por indivíduos, mas com limites.
Ah, bom! Então ficamos assim: porque o PT andou pegando doações oficiais oriundas da corrupção e como isso foi descoberto, então os companheiros agora querem mudar a lei.
Em que sentido?
Ora, pretendem, pelo visto, criar um sistema em que não possam ser descobertos jamais. E a melhor maneira de ver cumprido esse desiderato é proibir todas as doações legais.
Assim, elas poderão ser, finalmente, ilegais, sem, deixar rastros.
A política brasileira cairia na clandestinidade de vez.
Será realmente um momento notável da estupidez humana se, pego com a boca na botija, a converter propina em recibo oficial, o PT conseguir emplacar a sua tese da proibição da doação de empresas privadas a campanhas.
Aí, sim, o conjunto dos brasileiros estará entregue a uma máfia.
Porque os petistas Vaccari e Duque, entre outros, cometeram, segundo a denúncia, crimes asquerosos no âmbito das doações legais de empresas, então há quem queira tornar ilegais todas as doações.
Assim o petismo quer ser, a um só tempo, o mal e o remédio.