A saída mais burra 25/03/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Se o Planalto havia gostado muito pouco dos números da pesquisa Datafolha, divulgados na quarta passada, apontando que apenas 13% dos entrevistados acham o governo Dilma “ótimo ou bom”, contra 62% que o têm por “ruim e péssimo”, gostou ainda menos dos dados do levantamento CNT/MDA que vieram à luz ontem: são ainda piores.
Apenas 10,8% dizem ser a gestão ótima ou boa. Nada menos de 64,8% a têm por ruim ou péssima.
Se a eleição presidencial fosse hoje, aponta o levantamento, o tucano Aécio Neves venceria a disputa por folgados 55,7% a 16,6% -- brancos e nulos somaram 22,3%, e 5,4% disseram não saber em quem votar.
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O resultado é devastador. E pode piorar, querem ver?
Nada menos de 59,7% se dizem favoráveis ao impeachment da presidente, contra 34,7% que se dizem contrários.
Desaprovam a presidente 77,7% dos que responderam ao levantamento, contra uma aprovação de apenas 18,9%.
Nem poderia ser diferente: 75,4% dizem que o segundo mandato de Dilma é pior do que o primeiro, e 68,9% acham que a presidente é culpada pelos escândalos na Petrobras.
Perceberam?
Não há boa notícia possível. Não há como achar um número inspirador.
Esses dados -- e isso já tinha sido captado pelo Datafolha -- explicam a indisposição das ruas com a presidente.
Esses percentuais demonstram por que dois milhões lotaram os espaços públicos no domingo.
Viram-se na sequência um governo assustado, acuado, e um partido -- no caso, o PT -- desesperado, a falar qualquer coisa.
Rui Falcão, presidente da legenda, chegou até a imaginar um pacote de inspiração bolivariana contra a imprensa.
Que se note: em política, adversários sempre são um problema. É o esperado.
Um governante está lascado mesmo é quando seus aliados fazem bobagens em penca. É o caso hoje em dia.
A população, ademais, está solidária com os protestos.
Dizem apoiá-los 83,2% dos entrevistados, que não são, à diferença do que afirmaram alguns ministros aloprados, apenas eleitores de oposição.
Entre os que responderam a pesquisa, 41,6% declararam ter votado em Dilma nas eleições de outubro do ano passado, contra 37,8% que votaram em Aécio.
Como se vê, os próprios eleitores da petista desertaram.
Até agora, registre-se, não se ouviu uma só palavra sensata oriunda do Planalto e do PT.
Quem não está perplexo desanda a falar bobagens pelos cotovelos.
Todas as formas possíveis de desqualificar os manifestantes foram tentadas. Nenhuma funcionou.
Ao contrário: a agressão a quem exerce o sagrado direito democrático de dizer “não” só agrava o quadro da crise.
Ora, dados os desastres econômicos em série, as lambanças na Petrobras e as evidências de uma espécie de governo paralelo que estava lotado na estatal, o razoável seria que o governo definisse um interlocutor para tentar o diálogo com os divergentes.
Na democracia, isso é comum e nada tem a ver com cooptação.
Mas quê! Eles continuam a sentar o braço nos adversários, a mover a máquina suja do subjornalismo contra alvos que consideram incômodos, a provocar ainda mais repúdio em razão de sua cultura autoritária.
Pior: nunca se sabe quando um novo episódio da Operação Lava-Jato explode aos olhos dos brasileiros.
A situação política de Dilma continua desesperadora.
Hoje, a única esperança do Planalto é que, da Caixa de Pandora da Lava-Jato, surjam evidências contundentes contra alguns “aliados inimigos” -- como Eduardo Cunha -- e contra oposicionistas.
O diagnóstico entre os palacianos é pessimista. Até porque Dilma não tem com que acenar.
O Boletim Focus prevê uma recessão de 0,83%, com inflação de 8,12% neste 2015.
A Fiesp, num estudo inédito -- e, parece-me, mais realista -- acha que a economia encolherá 1,7%, com uma retração de 4,5% na indústria, que já deve ter encolhido 1,8% em 2014.
Não sobraram a Dilma nem mesmo alguns caraminguás com que acenar para os pobres.
Dilma poderia ter ao menos o conforto espiritual de culpar a oposição por ter inflado a crise.
Mas ela sabe que isso seria falso como nota de R$ 3.
A oposição com a qual o governo não consegue nem diálogo nem contato está nas ruas, com o cidadão comum, permanentemente hostilizado pela tropa de choque petista.
É a coisa mais burra a fazer. Mas parece que eles não sabem fazer de outro modo.