Onde está a saída? 29/03/2015
- Fernando Gabeira - O GLOBO
Tirei terno e gravata do armário e fui a Brasília.
Onde está a saída para a crise? Levei a pergunta para uma dezena de políticos experimentados.
Nenhum deles apontou a saída imediata. É um cuidado razoável.
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O máximo que se consegue é apontar variáveis que possam definir os rumo da crise.
Comportamento do governo, ajuste econômico, curso da Operação Lava-Jato são as mais citadas.
Asensação predominante é a de que algo vai acontecer, e ninguém sabe precisamente o que é.
A hipótese de um governo sangrando até 2018 é a mais improvável, embora seja esse o desejo de uma parcela de observadores, dentro e fora do Congresso.
Marchamos para o desconhecido. É uma fase delicada.
Os conservadores tendem a achar que o diabo desconhecido é sempre pior do que o existente.
Querem mudança, mas dentro de um quadro planejado, com resultados previsíveis.
Mas, nesses casos, sempre existe o argumento de que, muitas vezes, é preciso caminhar, mesmo sem saber o que nos espera, com uma abertura para a novidade.
Quanto ao ajuste econômico, deve ser objeto de muita discussão, basicamente sobre quem paga a conta.
A tendência é de dias mais duros, com possibilidade de racionamento de energia.
É o que os técnicos propõem. Não porque faltará energia para o consumo em 2015. Mas porque é preciso poupar, pois, sem oferta adequada de energia, não existe retomada em 2016.
De qualquer forma, o ajuste econômico passou a ser de interesse nacional, não só por causa da realidade interna, mas também da percepção externa.
Graças à expectativa do ajuste, o Brasil não foi rebaixado à condição de país especulativo, com inevitável fuga do capital.
Sou pessimista quanto aos passos do governo.
O documento que vazou da Secretaria de Comunicação mostra como estão perdidos.
Falam de tudo, de robôs, redes sociais, blogueiros, propaganda, mas não falam da mensagem.
Dilma tem os microfones à disposição. Mas não sabe usá-los.
Em alguns casos é possível aprender. Pessoas tímidas, executivos de grandes empresas fazem um treinamento, chamado media training.
Mas não há treino que possa criar um líder para conduzir o país numa tempestade.
Não há mensagem nem presidente capaz de comunicá-la.
O panelaço segue como a batida da temporada.
A saída de Dilma é usar a tática de guerrilha: falar quando o adversário está desprevenido e recuar quando ele está atento.
A outra variável é a Operação Lava-Jato, outro dado positivo que teve peso para que o Brasil não fosse rebaixado pelas agências internacionais.
No momento, o foco é o PT.
Os políticos deram azar em ter o juiz Sérgio Moro pela frente.
Especialista em lavagem de dinheiro, sabe que rastrear o curso da grana é o caminho real nas investigações.
Com base na informação dos delatores e em recibos de empresas, as investigações demonstram o golpe do PT: transformar propinas em doações legais.
Leio que o Planalto quer que o PT demita o tesoureiro. O PT hesita.
É difícil passar a ideia de que foi tudo culpa de um só homem.
É gente muito calejada para fingir que João Vaccari era uma fada de barba que produzia fortunas apenas com o toque de sua vara de condão.
Isso irá parecer um pouco aquela lenda urbana da filha de família que trabalha fora e volta sempre com presentes caros para casa.
E aí os parentes descobrem, um dia, que a menina faz programas.
A variável mais importante é pouco discutida em Brasília.
Dois milhões de pessoas foram às ruas, sem nenhum incidente.
A sociedade brasileira ganhou maturidade nas demonstrações e mantém-se vigilante porque sua sorte está em jogo.
O agravamento da crise, a dureza do ajuste econômico e a mobilização social podem nos levar a um novo momento.
Não ouso descrevê-lo. Sinto apenas que o dilema brasileiro poderá ser esse: fazer um omelete sem quebrar os ovos.
Essa tarefa que parece impossível para os estrangeiros não é tão distante assim das soluções históricas no Brasil.
Se os culpados pela corrupção na Petrobras forem punidos e chegarmos a um consenso mínimo sobre o ajuste econômico, abre-se a possibilidade de um governo de unidade nacional.
O PMDB tem ocupado o lugar do PT. Mas está encalacrado na Operação Lava-Jato.
Teria, em caso de sobrevida, a possibilidade de um aceno nacional.
O PT, que sempre dividiu o país entre pobres e ricos, brancos e negros, reacionários e progressistas, não tem chance de tentar esse caminho.
O momento é verde-amarelo.
Sem nenhum juízo de valor sobre símbolos históricos, quem o confundiu com o vermelho cometeu um erro decisivo.
O Estado não é um partido, uma política externa não pode refletir a cabeça da minoria, os direitos humanos não englobam apenas os escolhidos.
Quando desenharam uma estrela no jardim do Palácio e tiveram que removê-la, deveriam ter compreendido que é insuportável viver num país que tem dono, seja ele um partido ou um demagogo.
Não se conhecem os protagonistas do futuro. Mas já se sabe quem será atropelado por ele.