Missão impossível 03/04/2015
- Raquel Landim - Folha de S.Paulo
Nos últimos dias, o governo vem tentando animar o setor produtivo e engrenar uma agenda positiva. A presidente Dilma e seus ministros estão martelando na imprensa e em conversas diretas com os empresários que o pior já ficou para trás.
O discurso agora é que o ajuste fiscal vai começar a surtir efeito, tirando a economia do marasmo no final do ano e garantindo um crescimento sustentável em 2016.
A visão do Planalto é que até mesmo a complexa situação da Petrobras estaria perto de ser resolvida, com a divulgação do balanço no final do mês, após sucessivas postergações por causa das denúncias de corrupção da Operação Lava Jato.
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Em conversas com os presidentes das montadoras de automóveis na quarta-feira, Dilma deu o recado do que espera do setor produtivo: paciência, visão de longo prazo e foco na exportação. Em bom português, aguardem mais um pouco e não demitam.
É obrigação do governo ser otimista, mas uma reação do empresariado demanda mais que blá, blá, blá. Em muitas empresas, o que se vê é uma combinação perversa de vendas em queda, capacidade ociosa e custos subindo.
O governo precisa com urgência adotar uma agenda positiva concreta, mas, com o coberto curtíssimo por causa do ajuste fiscal, é praticamente uma missão impossível.
Um exemplo: desde que assumiu o ministério do Desenvolvimento, Armando Monteiro vem falando num plano nacional de exportação.
Com o câmbio acima de R$ 3 e a economia local estagnada, parece ser a única saída para vários setores.
Não há ninguém em Brasília que seja contra a necessidade de estimular as exportações, mas até agora nada saiu do papel.
Com um rombo gigantesco nas contas públicos, o ministro da Fazenda Joaquim Levy não só não libera os recursos como restringe o pouco que já existe.
A tesoura da Fazenda já cortou o Reintegra (que devolvia créditos fiscais para os exportadores) e agora avança sobre o Proex Equalização (um subsídio do Tesouro para que os bancos reduzam os juros cobrados na exportação).
São os dois principais pilares do plano, que vai se tornando vazio e ineficaz.
E, sem plano de exportação, acaba uma das poucas agendas positivas da presidente na área econômica.
A esperança é que o simples fato de colocar a casa em ordem com o ajuste fiscal acabe gerando um clima positivo no país.
Mas até lá ainda teremos mais demissões, inflação, manifestações, escândalos de corrupção...