Pendenga sem sentido 22/04/2015
- Folha de S.Paulo
Noticia-se que membros do Ministério Público Federal (MPF) e delegados da Polícia Federal (PF) envolvidos nas apurações da Operação Lava Jato tentam realizar uma reunião a fim de diminuir os pontos de atrito entre as duas equipes.
Pelo bem do país, espera-se que consigam -- e logo.
Na última quarta-feira (15), o ministro Teori Zavascki suspendeu a tomada de depoimentos relativos a sete inquéritos conduzidos no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF).
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Atendeu a um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, segundo quem seria necessário definir melhor as estratégias do caso.
Por trás do gesto de Janot há mais que um simples esforço para coordenar a linha de atuação dos investigadores.
Sua intervenção representou, até agora, o ápice da disputa entre os órgãos encarregados de escrutinar o escândalo de corrupção na Petrobras.
Procuradores vinham manifestando desconforto com o fato de a PF ter marcado oitivas sem consultar o MPF, a quem cabe apresentar a acusação formal à Justiça.
Policiais, por sua vez, sustentam que procuradores estariam incomodados com as articulações da PF para conquistar autonomia operacional e orçamentária.
O conflito de interesses chegou a tal ponto que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se sentiu instado a agir para amenizar o clima entre as cúpulas das instituições -- sem sucesso, por enquanto.
Ministros do STF também se mostraram preocupados com a pendenga.
Como atesta a própria suspensão de depoimentos na semana passada, as desavenças entre o MPF e a PF prejudicam o andamento das investigações.
Embora não se saiba quais oitivas terminaram adiadas, não custa lembrar que estão no Supremo, sob a relatoria de Teori Zavascki, os inquéritos da Operação Lava Jato que se referem a políticos.
Circunstância que, sem dúvida, acrescenta desconfianças ao que de outra forma poderia parecer apenas uma reedição de antigas rixas entre os dois órgãos.
Em qualquer hipótese, nada pode haver de proveitoso nesse mal-estar.
Até para afastar as piores conjecturas, as cúpulas do Ministério Público Federal e da Polícia Federal precisam, a despeito das diferenças, levar adiante as apurações sobre os desvios bilionários na Petrobras.