Petrobras, o retrato do PT 23/04/2015
- Blog de Rodrigo Constantino - Veja.com
Após vários meses de atraso, a Petrobras finalmente divulgou seu balanço auditado, com um prejuízo superior a R$ 20 bilhões em 2014. Como a empresa havia tido um lucro de quase R$ 25 bilhões em 2013, estamos falando de uma reversão de R$ 45 bilhões de um ano para o outro. É o custo estimado das trapalhadas operacionais e da corrupção exposta pela Operação Lava-Jato, sendo que ninguém sabe ao certo o tamanho exato do rombo.
Muitos falam da União como acionista majoritário da estatal, mas, na verdade, o mais correto seria falar em acionista controlador. O estado detém o controle da empresa, com 50,3% das ações ordinárias, mas é um acionista minoritário quando incluem-se as ações preferenciais.
Ou seja, essa destruição de valor na estatal penaliza todos aqueles investidores que resolveram apostar no futuro da empresa, incluindo os milhões de brasileiros que se tornaram sócios por meio do FGTS, incentivados pelo próprio governo.
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Além disso, é importante frisar que a União não tem mais condições de aumentar o capital da Petrobras, sob o risco de perder o controle, já que está no limite acima de 50% das ONs. Por isso a pressão para vender ativos, ainda que a preço aviltado e a toque de caixa, já que a produção da empresa cresce muito pouco, apesar dos pesados investimentos, enquanto a dívida sobe sem parar.
Atentai-vos para a magnitude dos números! A Petrobras já possui mais de R$ 300 bilhões de dívida, e mais de R$ 280 bilhões de dívida líquida. São montantes assustadores, que fazem da estatal uma das empresas mais endividadas do planeta.
Mas, como podemos ver no gráfico acima, o nível de produção é praticamente o mesmo desde 2010, ou seja, cinco anos sem crescimento na produção mesmo tendo investido dezenas de bilhões todo ano (foram mais de R$ 100 bilhões só em 2013 e quase R$ 90 bilhões em 2014, e cerca de R$ 60 bilhões por ano apenas em exploração e produção).
Como pode? Ora, só mesmo um misto de muita incompetência com descaso e roubalheira.
O valor de mercado da Petrobras, que era de R$ 380 bilhões em 2010, fechou 2014 pouco acima de R$ 100 bilhões. Quem mais sente são os investidores “minoritários”, claro, mas se engana quem acha que isso diz respeito apenas aos investidores diretos.
Não só somos todos acionistas dela por meio da União, como a perda de valor, concomitantemente ao acelerado crescimento do endividamento, coloca em risco o futuro da empresa. Isso afeta a capacidade de investimentos e toda a economia do país, pelo expressivo tamanho da Petrobras. Vide o que aconteceu com Macaé, por exemplo.
Resumo: a nova gestão está tendo que adotar uma política de desinvestimento e abandonar vários projetos, muitos idealizados inclusive pelo ex-presidente Lula, como aqueles ligados ao refino (o maior em parceria com a Venezuela do então camarada Chávez).
A megalomania de Lula, uma espécie de xeique tupiniquim, custou muito caro a todos, mas quem paga por isso? Não o ex-presidente, muito menos seu PT. Para eles, a Petrobras foi uma vaca leiteira, que abasteceu suas campanhas eleitorais e seu projeto de perpetuar-se no poder.
O petróleo é nosso? Eis o que que o PT fez com o “nosso” petróleo, pois o deles já foi todo para o caixa dois do partido ou para a Suíça (não vamos esquecer que um simples gerente admitiu ter quase cem milhões de dólares lá). E como se não bastasse tamanho escárnio, a empresa ainda diz no relatório que tem forte compromisso com a ética:
O nosso compromisso com a ética e a integridade está estabelecido em documentos como o Código de Ética do Sistema Petrobras e o Guia de Conduta da Petrobras; e em iniciativas como o Sistema de Gestão da Ética e o Programa Petrobras de Prevenção da Corrupção. [...]
O Programa Petrobras de Prevenção da Corrupção, aprovado em 2013, é movido por ações contínuas de prevenção, detecção e correção de atos de fraude e corrupção, a fim de fortalecer o compromisso com a ética e a transparência em nossas atividades e relações, atendendo aos requisitos fixados na lei e em iniciativas nacionais e internacionais que participamos. A gestão do programa é realizada pela Diretoria de Governança, Risco e Conformidade.
Pelo visto é só para inglês ver. Será que os milhões de acionistas estão contentes? Será que os mais de 80 mil funcionários estão satisfeitos com a gestão da Petrobras?
Alguns sem dúvida estão, pois o gasto com pessoal da estatal, mesmo em meio a esta enorme crise, aumentou 13% no ano.
Há meritocracia?
É por isso que muitos são contra uma eventual privatização, pois seriam cobrados de acordo com o que efetivamente agregam de valor?
Dizem que o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada, e que o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada.
Pois bem: o PT conseguiu refutar essa velha máxima, atribuída a John Rockfeller.
A Petrobras, sob o governo petista, passou a ser muito, muitíssimo mal administrada, e deixou de ser um bom negócio, para se tornar um buraco sem fundo, um ralo inesgotável de recursos, uma máquina de produzir prejuízos.
A empresa vem sendo sistematicamente saqueada por uma quadrilha que se instaurou dentro dela.
O mais chocante, porém, é o próprio PT e o ex-presidente Lula, um dos maiores responsáveis por essa desgraça toda, posarem de defensores da estatal contra aqueles que supostamente querem destruí-la ou privatizá-la (como se fossem sinônimos).
Ora, se essa gente é amiga da estatal, então sem dúvida ela não precisa de inimigos!