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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

A Jules Rimet por cocaína
25/04/2015 - Mariliz Pereira Jorge - Folha de S.Paulo

Maradona não cheirava coca porque era safado, cheirava porque deve ser muito bom -- ainda que esteja mais que comprovado que o uso prolongado faça um mal danado.

Passo longe dessas substâncias ilícitas e famosas por causar dependência porque tenho certeza que iria parar na sarjeta. Ou morrer mesmo.

Foi quase o que aconteceu com Paulo Cézar Lima, o Paulo Cézar Caju, jogador da seleção brasileira, campeã da Copa de 1970.


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Numa entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, no programa Dossiê GloboNews, ele conta que foi viciado em drogas e álcool durante 17 anos.

Mais: vendeu a medalha da Fifa de campeão do mundo e uma miniatura em ouro da taça Jules Rimet para comprar cocaína. Foi de uma sinceridade desconcertante.

Segundo ele, o envolvimento com a cocaína começou na França, após o fim de sua carreira. Só parou quando uma médica disse que ele iria morrer, e depois de ter "cheirado três imóveis da zona sul do Rio".

A história é triste. Mas acho mais triste que atletas sejam marginalizados e as pessoas se choquem tanto ao saber do envolvimento de esportistas famosos com drogas.

Não faltam exemplos. Andre Agassi com metanfetamemina. Michael Phelps com maconha. Maradona com cocaína. Só para citar alguns.

Por outro lado, a gente acha quase normal quando um roqueiro morre de overdose ou sabe que um artista foi parar numa clínica de reabilitação.

Você é um superstar, logo, usar drogas, abusar do álcool ou tratar mal a faxineira fazem parte do job description. Coisa de artista.

Artistas nasceram para transgredir. Atletas para serem os mocinhos.

Esquecemos que atletas de elite se tornam estrelas muito jovens. Com a fama, vem dinheiro, glamour, festas e paparicação.

Onde há dinheiro, glamour, festas e paparicação sempre haverá drogas à vontade.

E como disse no início, drogas em geral devem dar um puta dum barato bom, senão ninguém usaria.

Mas quando histórias de atletas e drogas vêm à tona não perdoamos.

Não perdoamos doping porque queremos acreditar em super-heróis.

Não perdoamos atletas que usam drogas recreativas porque quem faz isso é fraco e vagabundo.

Natural que isso seja tratado de forma confidencial, ainda que não seja segredo no meio esportivo que muitos atletas gostem e muito de fumar um beck ou cheirar uma carreira.

Não defendo que possam usar drogas livremente -- mesmo sendo a favor da legalização.

Apenas considero essa patrulha hipócrita.

Ninguém fiscaliza a vida de médicos, engenheiros ou jornalistas para saber se trabalham sob efeito de entorpecente -- e muitos trabalham.

Acho uma babaquice quando vejo que fulano foi suspenso porque acharam traços de sei lá o que presente na maconha, três dias antes de uma partida. E daí?

Dizem que a cocaína é uma das drogas favoritas no mundo do futebol, entre jogadores na ativa e aposentados, como foi o caso de Caju.

Um deles falou a um conhecido que o efeito da coca era parecido com a sensação de entrar no estádio e ser ovacionado pela multidão. Talvez por isso muitos caiam no pó. Um vício acaba substituindo o outro.

É legal?

Não.

É saudável?

Não.

Mas, honestamente, o que temos a ver com o que cada um faz da sua vida ou com a sua carreira -- literalmente?

Que arquem com as consequências, sejam elas perder um jogo, o contrato ou a taça de campeão do mundo.


  

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