Triângulo da morte 26/04/2015
- ELIANE CANTANHÊDE - O Estado de S.Paulo
O encantado balanço da Petrobrás desencantou, confirmando, agora em números, qual o primeiro e maior problema da principal companhia brasileira: a ingerência política.
Foi ela, a ingerência política, que fechou o triângulo mortal da corrupção, do péssimo gerenciamento e do represamento artificial das tarifas.
Deu no que deu.
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Essa conjunção maldita acabou com a saúde e com a imagem da Petrobrás no País e no mundo, mas o pior é que não foi uma exclusividade da Petrobrás, mas sim a marca dos anos do PT, particularmente dos anos Lula, nos órgãos públicos e nas estatais.
Aparentemente, nada escapa.
Foi por interesses políticos que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de sua posse, em janeiro de 2003, nomeou sindicalistas alinhados ao PT para a presidência da Petrobrás e para as diretoriais do Banco do Brasil, por exemplo, e fatiou os principais cargos da petroleira entre “companheiros” petistas e “operadores” dos partidos aliados.
Só podia descambar para esse descalabro.
O resultado mais gritante no balanço anunciado na noite de quarta-feira é o das perdas de R$ 6,2 bilhões por causa da corrupção e, apesar de nada módico, esse total é visto com muita desconfiança por especialistas.
Há quem imagine que a sangria foi ainda maior.
Se você nomeia um diretor para abastecer as contas do PT e bolsos de petistas, outro para rechear as contas do PMDB e carteiras de pemedebistas, um terceiro para engordar as contas do PP e o patrimônio de pepistas, deveria saber o que estava fazendo.
Tudo isso se embolou com o velho cartel de empreiteiras e com os doleiros de sempre e a consequência é: corrupção.
Mas há dois outros resultados irritantes no balanço apresentado pelo novo presidente da companhia, Aldemir Bendine.
O segundo é o mau gerenciamento da empresa, o que não chega a ser surpreendente quando sindicalistas e apadrinhados se dão ao luxo de definir os investimentos da nossa Petrobrás para atender os interesses do Palácio do Planalto.
É assim que surgem obras muito caras -- e de potencial duvidoso -- em Estados governados por amigos do rei.
O terceiro resultado é o efeito corrosivo do represamento político dos preços da gasolina para postos e consumidor.
Lula segurou para não arranhar a sua já imensa popularidade.
Deu tão certo que ele continuou segurando para se reeleger, para eleger Dilma da primeira vez, para reeleger Dilma em 2014.
O efeito foi ótimo para eles e péssimo para a Petrobrás.
Mais cedo ou mais tarde, essa conta chega para o consumidor/eleitor.
E está chegando da forma mais perversa.
Antes, o petróleo estava caro lá fora e a gasolina era barata aqui dentro.
Agora, o petróleo está barato lá fora e a gasolina vai ficar mais cara aqui dentro.
Senão, a conta não fecha, a credibilidade não volta, a “nova Petrobrás” anunciada em Nova York pelo ministro Joaquim Levy nunca vai aparecer.
Até lá, a “velha Petrobrás” é o grande “case” dos dois governos Lula.
Quem descrever todas as nomeações políticas, o gerenciamento político e a administração política de preços da Petrobrás vai conseguir contar como foram os anos do PT nas estatais brasileiras.
Sem esquecer de contar o final da história: nas campanhas, o PT atribuiu aos adversários a intenção de privatizar a Petrobrás, mas é o próprio governo do PT que vai sair vendendo tudo o que puder da petroleira para diminuir o prejuízo.
Vão ter de vender muito, porque a Petrobrás é a empresa mais endividada do mundo.
Detalhe constrangedor: foi justamente a ministra de Minas e Energia, depois chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás do pior e mais obscuro período da Petrobrás que acabou sendo eleita para suceder Lula -- e ainda foi reeleita.
Só para completar, a sua grande marca era a de… gerentona.