Uma agenda para o futuro 03/05/2015
- Emílio Odebrecht*
Dei tempo ao tempo, mas com a divulgação do balanço da Petrobras decidi romper o silêncio e manifestar minha opinião sobre fatos que têm causado tantos prejuízos, tangíveis e intangíveis, aos brasileiros. Refiro-me ao assunto que há quase um ano ocupa o nosso dia a dia: a corrupção e a falta de uma agenda clara de crescimento com desenvolvimento para o Brasil.
A corrupção é problema grave e deve ser tratado com respeito à lei e aos princípios do Estado democrático de Direito, mas é fundamental que a energia da nação, particularmente das lideranças, das autoridades e dos meios de comunicação, seja canalizada para o debate do que precisamos fazer para mudar o país. Quem aqui vive quer olhar com otimismo para o futuro -- que não podemos esquecer --, sem ficar digerindo o passado e o presente.
O balanço da Petrobras tem uma dimensão simbólica quando atribui o valor de R$ 6,2 bilhões a perdas causadas pela corrupção e R$ 44,6 bilhões a erros de gestão -- estratégicos, gerenciais e operacionais.
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São números sobre os quais não me cabem comentários, mas os utilizo para ilustrar a urgência de nos livrarmos das duas pragas, porque tanto corrupção como má gestão são ralos por onde escoam riquezas, energia, dinheiro público e valores morais, drenando compromissos, possibilidades e esperanças.
Pagamos um preço muito alto por falta, protelação e erro nas decisões. Pagamos um preço muito alto pelo custo Brasil, que encarece nossos produtos e serviços e desestimula a competitividade do país. Pagamos um preço muito alto pelos orçamentos sem projetos e pela interferência política na gestão das nossas empresas públicas.
Por isso, precisamos nos mobilizar para a causa do crescimento com desenvolvimento, renovando nossas percepções e comportamentos e propondo uma agenda de futuro, compartilhada com a sociedade, em um processo de mudança para o qual os meios de comunicação têm muito a contribuir.
Aliás, o indispensável pacote de ajuste fiscal não poderia ocorrer sem a definição clara de onde, como e quando queremos chegar, atrelado, portanto, aos pilares dessa agenda que o momento exige. Nossos desejos e intenções devem ser transformados em objetivos e prioridades definidos com clareza com os responsáveis por fazê-los acontecer.
Poucos brasileiros têm noção de quanto uma obra ou um investimento são onerados quando paralisados várias vezes durante a sua implementação. Mobilizam-se trabalhadores, equipamentos, recursos. Depois desmobilizam-se. Aí mobilizam-se novamente, e assim por diante. Quem paga essa conta?
A falta de planejamento e de decisão prévias acabam sendo também geradores de custos elevadíssimos para o país porque quando não se faz o que é preciso no tempo certo, fazê-lo de maneira açodada e, não raro, sem os projetos prontos e recursos financeiros necessários, sai muito mais caro.
Não podemos esquecer dos prejuízos causados por instituições responsáveis por fiscalização, auditoria, aprovações ambientais etc. quando decidem prorrogar ou paralisar empreendimentos necessários ao país -- não raro por motivação política ou ideológica, em muitos casos também com a ajuda dos responsáveis por atender suas exigências, que não se antecipam e não as atendem nos prazos e nas condições estabelecidos.
O enfrentamento da corrupção é necessário. Como também é necessário que a sociedade, os meios de comunicação e as lideranças ajam para que o Brasil deixe de tolerar a incompetência, a irresponsabilidade e o despreparo na gestão pública. Porque a causa que é comum a todos nós é a construção de um país melhor para as gerações futuras.
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*Emílio Odebrecht, 70, é presidente do Conselho de Administração da Odebrecht S.A.