A votação de um projeto de lei sobre rotulagem de alimentos, na última terça-feira, ajuda a explicar o Congresso que está aí.
Desde 2003, as embalagens de produtos que contêm organismos geneticamente modificados devem trazer um pequeno triângulo amarelo com a letra T, de transgênico.
O plantio de transgênicos é liberado no Brasil. O que a regra atual garante é que o consumidor tenha informações para escolher se deseja ou não comprar esses produtos. Quem quer, leva. Quem não quer, busca outra opção na prateleira.
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Isso contraria algumas gigantes do setor alimentício, que preferiam não dizer como fabricam o que você come. Essas empresas financiam as campanhas de políticos que representam seus interesses em Brasília.
Em 2008, o deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS), da bancada ruralista, apresentou projeto para eliminar o triângulo das embalagens. De acordo com ele, dar informações desinforma o consumidor.
"A informação que induza a erro, falso entendimento ou de conteúdo inútil é desinformante, já que não cumpre o papel de esclarecer, mas sim o de confundir ou de nada agregar", escreveu. Seria mais prático recorrer a Chacrinha: "Não vim para explicar, vim para confundir".
Heinze, que é investigado na Operação Lava Jato, também alegou que a cor amarela encarece as embalagens e que o triângulo lembra as placas de perigo de radiação. Só faltou dizer que as donas de casa estão fugindo dos supermercados com medo de que o óleo de cozinha tenha vindo de Chernobyl.
Na votação de terça, o deputado Alessandro Molon (PT-RJ) ridicularizou o lobby ruralista com uma pergunta: "Por que quem diz que o transgênico é uma maravilha não quer que o consumidor saiba que tem transgênico no produto?"
A ironia não parou os tratores. A Câmara aprovou com folga, por 320 votos a 135, o projeto que retira o símbolo das embalagens.