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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O doente imaginário
27/05/2015 - Blog de Geraldo Samor - Veja.com

Quando Joaquim Levy pega uma gripe, o Brasil pega uma pneumonia.

E como é impossível saber o que separa um "ministro descontente" de um "ex-ministro", é muito provável um cenário com muita volatilidade -- dólar e juros em alta e Bolsa na direção oposta -- dado o vasto noticiário no fim de semana dando conta da insatisfação de Levy com o tamanho do contingenciamento anunciado pelo Governo bem como as projeções irreais de arrecadação para este ano.

A narrativa que emerge do noticiário é de que a Presidente Dilma e o Ministro Nelson Barbosa compartilham uma visão mais benigna da situação fiscal do que Levy.


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Trata-se de uma divergência que sempre existiu, mas que o mercado julgava estar sob controle, sob a égide da busca de um denominador comum em favor da estabilidade.

A Presidente não deve ter o que reclamar do ministro gripado.

Levy tem sido praticamente o "funcionário do mês" desde que o Governo Dilma 2 começou: segurou na mão dos analistas das agências de risco e, olhando em seus olhos, garantiu sozinho a manutenção do rating do País, uma batalha que a maioria do mercado já considerava perdida.

Depois disso, foi ao Congresso para o corpo a corpo insalubre com os deputados, que frequentemente não têm o preparo técnico para entender que a soma de 2 + 2 é igual a 4, e que não há emenda que faça o resultado dar 5.

No fim de semana, um corretor de um grande banco internacional -- que mora fora do País e ganha a vida conversando com investidores internacionais com dinheiro no Brasil -- enviou ao colunista um email com as reportagens sobre Levy.

No topo da mensagem, a gentil recomendação: “Se ele sair, mude de País”.

Mas não será preciso mudar do Brasil para se estar em um País diferente, porque, se Levy sair, o Brasil definitivamente será outro: terá uma moeda mais fraca, juros mais altos, inflação mais virulenta, e uma crise política ainda mais cabeluda do que a esquizofrenia atual.

O Congresso e o próprio PT têm brincado com fogo e aumentado o custo do ajuste.

Além do enfraquecimento das medidas fiscais -- um sinal de que o Congresso não entende o tamanho do estrago causado nos últimos anos e do que está em jogo agora -- o exemplo mais ilustrativo do ânimo populista foi o senador petista Lindbergh Farias questionar semana passada o custo político dos cortes de gastos.

“Será que a presidente Dilma e o Aloizio Mercadante [chefe da Casa Civil] acham mesmo que, acabado esse ajuste do Levy, a situação vai melhorar?”

Farias disse ao repórter Josias de Souza:

“Não sei o que passa pela cabeça da Dilma e do Mercadante. Mas creio que eles não estão se dando conta de que essa política econômica vai nos afundar. Isso não será ruim apenas para o PT, mas para toda a esquerda brasileira.”

É verdade que o ajuste fiscal é procíclico, isto é, tende a acentuar ainda mais a recessão que já está encomendada.

É verdade também que, uma vez feito o ajuste, resta ao Governo esperar (rezar?) para que os empresários recuperem a confiança e voltem a investir -- em outras palavras, o ajuste não garante a retomada, apenas cria as condições mais lógicas para que ela aconteça.

A verdade que o senador não quer discutir é que foi o próprio Governo e seu próprio partido que se colocaram nesta situação ao longo dos últimos anos, e agora suas opções são demasiadamente limitadas.

Por exemplo: se agora o BC cortasse os juros rapidamente, quem voltaria galopando primeiro: os empregos ou a inflação?

E o fato de que o setor público simplesmente não tem mais dinheiro para estimular quem quer que seja?

Assumindo que Levy saia e que o caos não se instale imediatamente no preço dos ativos, a promoção de Nelson Barbosa para a cadeira da Fazenda não teria nem de longe a octanagem necessária para restaurar a credibilidade que seu colega trouxe para a mesa.

“Quando o Levy assumiu, ele olhou para o que foi feito nos últimos quatro anos e disse, inequivocamente, que estava tudo errado. Já o Nelson, em suas palestras antes e depois de virar ministro, olha para os últimos quatro anos e diz que houve excessos, mas que o modelo estava correto,” diz um economista que tem trânsito junto a ambos.

“Todo mundo sabia que esse era um casamento de validade muito curta, mas eu não esperava que eles batessem cabeça tão cedo.”

Mesmo com Levy, entregar o ajuste fiscal já é tarefa quase impossível dadas as limitações da política, o tamanho do rombo, e a fraqueza da economia. Sem ele...

Se Levy sair, os constrangimento sofridos por Dilma até agora -- as acusações de estelionato eleitoral por parte da oposição e de "vira-casaca" por setores do próprio PT -- terão sido em vão.

Também terão sido em vão os cortes na educação, na saúde e em outras áreas socialmente sensíveis: o custo da dívida (do Governo e das empresas) subirá exponencialmente com a reprecificação dos mercados de câmbio e de renda fixa.

A Presidente tem (muito) mais a perder do que o ministro.

Felizmente, na segunda-feira Joaquim Levy apareceu pra trabalhar e negar (ou minimizar) as discordâncias aos repórteres que cobrem a Fazenda, munido daquele sorriso fugaz que esconde mais do que revela.

Em algum momento, Aloizio Mercadante dará uma entrevista reafirmando o "apoio total" da Presidente ao ministro.

(Um dos dois, com certeza, culpará a imprensa por ‘exagerar’ na cobertura.)

Sua gripe já terá passado e o recado terá sido dado.

Mas a infecção continua.


  

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