O juiz Sergio Moro joga xadrez 27/05/2015
- Elio Gaspari - Folha de S.Paulo
Há alguns meses o juiz Sergio Moro perdeu uma parada feia.
O caso das propinas pagas na Petrobras pelos holandeses da SBM saiu de sua jurisdição e, pelo que se teme, foi dormir.
A SBM é a maior operadora de unidades flutuantes de petróleo do mundo. No ano passado pagou uma multa de US$ 240 milhões por propinas que distribuiu mundo afora.
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No Brasil, despejou US$ 139 milhões de "comissões legítimas".
Moro e a força-tarefa do Ministério Público não disseram uma palavra.
Pareciam Bobby Fischer entregando a rainha na partida de xadrez que, mais tarde, veio a ser chamada de "o jogo do século".
Nas petrorroubalheiras das sondas e unidades flutuantes estão imersos contratos de US$ 25,5 bilhões.
Desde que começou a Lava Jato esse braço das operações vem sendo protegido por um manto de empulhações.
Em Curitiba, o jogo foi outro.
Entre os empreiteiros presos em novembro estava Gerson Almada, vice-presidente da Engevix, dona de um lote de contratos para a construção de sondas.
Na sexta-feira, Moro prendeu preventivamente Milton Pascowitch, o cupido das boas relações do PT com a Engevix.
Almada reconhecera que pagava comissões a Pascowitch. Entre 2004 e 2014 foram R$ 80 milhões.
Segundo Pedro Barusco, Pascowitch era um dos onze operadores que molhavam suas mãos e as de Renato Duque, ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras.
Se há uma grande conexão entre as petrorroubalheiras e o PT, ela passa também por aí.
Um dos clientes da empresa de consultoria do comissário José Dirceu era o doutor Pascowitch.
Quando Bobby Fischer entregou a rainha, sabia o que estava fazendo.
Ao fim do jogo, a rainha do adversário ficou sem ter o que fazer, e o garoto ganhou a partida.
Moro sabe que dois bancos japoneses já jogaram a toalha em relação a seus créditos com estaleiros nacionais.
Um terceiro ameaça vir com a faca nos dentes, querendo saber se o seu dinheiro foi usado para pagar propinas. Almada já contou alguma coisa. Duque e Pascowitch estão em copas, mas há razões para se supor que Moro esteja mais um lance à frente, com um novo canário interessado em cantar para o Ministério Público. Em fevereiro o juiz Moro negara um pedido de preventiva contra Pascowitch, agora deferiu-o. Mais: o Ministério Publico está puxando o fio da meada das relações financeiras de empreiteiros com alguns escritórios de advocacia.
Até agora a iluminação da Lava Jato favoreceu casos como os das refinarias onde rolavam licitações fraudadas, aditivos e superfaturamentos.
A mãe de um empreiteiro sempre poderá sustentar que o trabalho de seu filho resultou em obras visíveis, reais.
No caso de algumas unidades flutuantes o buraco é mais em cima, pois há equipamentos alugados, prontos. O dinheiro vai de uma caixa para outra sem empregar vivalma.
Os investigadores de Curitiba começaram a mostrar o que sabem a respeito dos contratos do pré-sal.
Logo depois de sua posse na presidência da Petrobras, o comissário Aldemir Bendine lembrou que num novo plano de investimentos "talvez você pegue a SBM, que é uma importante fornecedora".
Tão importante que foi proibida de fazer negócios com a empresa e, mesmo negociando um acordo de leniência, ainda não chegou a um acordo com a Controladoria-Geral da União.