Em uma jogada ensaiada entre a Justiça dos Estados Unidos e a polícia da Suíça, sete dirigentes da Fifa foram presos em Zurique nesta quarta-feira (27), onde estavam reunidos para o congresso anual da entidade máxima do futebol.
A operação pegou todos de surpresa, mas a Fifa não demorou a reagir.
O comitê de ética da federação internacional baniu provisoriamente do futebol 11 pessoas acusadas pelas autoridades americanas de integrar um esquema de enriquecimento ilícito envolvendo organização, comercialização e transmissão de eventos esportivos.
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Tanto a ação policial como a resolução ética atingiram José Maria Marin, ex-presidente da CBF, mas a confederação brasileira se mostrou mais hesitante do que a Fifa.
Por meio de nota sucinta, a princípio limitou-se a declarar apoio às investigações e a anunciar que aguardaria "sua conclusão, sem qualquer julgamento que previamente condene ou inocente".
Ao final, o texto oficial lembrava que "a nova gestão da CBF" teve início no dia 16 de abril deste ano -- uma simplória tentativa de manter a atual cúpula da entidade distante do escândalo.
Não seria o caso, obviamente, de atropelar as instâncias judiciais ou de supor que a resposta da Fifa lhe assegurará um salvo-conduto a partir de agora.
Chama a atenção, contudo, a visível diferença de tom na manifestação inicial das entidades, e soa natural esperar que a brasileira apresente bons motivos para esse contraste.
Também faria bem se explicasse como investigadores dos Estados Unidos enxergaram uma rede criminosa que jamais foi vista pela "nova gestão da CBF".
Seu presidente, Marco Polo Del Nero, ocupou o cargo de vice-presidente na gestão de Marin, e este era vice-presidente na gestão de Del Nero, até ser afastado como consequência da decisão da Fifa.
Segundo autoridades americanas, o esquema incluía fraude, suborno e lavagem de dinheiro.
Remontando a 1990, envolveu duas gerações de dirigentes ligados a torneios como Copa América, Libertadores e Copa do Brasil.
Marin, ainda de acordo com a Justiça dos EUA, chegou a receber R$ 2 milhões por ano a título de propina de empresas como a Traffic Group, maior agência de marketing esportivo da América Latina.
Seu proprietário, José Hawilla, é réu confesso nos EUA.
Há muito se sabe que falta transparência às entidades do futebol.
Talvez as investigações conduzidas nos Estados Unidos forneçam o estímulo que faltava para ocorrer uma verdadeira transformação na organização do esporte.
O amargurado futebol brasileiro só terá a agradecer.