A geopolítica do Fifão 29/05/2015
- Blog de Caio Blinder - Veja.com
O jogo é previsível. O poderoso chefão Vladimir Putin saiu em defesa de Don Blatterone, também conhecido como Sepp Blatter, o acuado presidente da Fifa.
Os americanos partiram para o ataque para denunciar a “desenfreada e sistêmica” corrupção na máfia do futebol chefiada por Don Blatterone e Putin está na retranca, ofendido e paranóico.
Ele briga pela reeleição de Blatter sem pudor. O chefão de Zurique, igualmente sem pudor, batalha contra estas conspirações pró-transparência para que sejam anuladas as decisões para Rússia e Catar sediarem as próximas copas.
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Putin já estava irritado com as pressões de alguns políticos americanos (nada muito consequente) para um boicote da Copa em 2018 ou mesmo a revogação da escolha da Rússia como sede devido à sua agressão na Ucrânia.
Muitas das alegadas denúncias de corrupção na Fifa ocorreram fora dos EUA e envolvem estrangeiros, mas a Justiça americana atua corretamente devido às inúmeras conexões de cartolas e empresários esportivos indiciados (alguns são réus confessos) com o sistema financeiro do país.
Propinas foram pagas ou discutidas em solo americano e qual é a alegação de Putin?
Os EUA são egoístas, o país é bully e ambiciona estender sua jurisdição para outros países.
Coitados dos cartolas submetidos à truculência do FBI. Seus direitos humanos estão sendo violados com esta intervenção imperialista.
É importante lembrar que além das investigações da Justiça americana, os suíços também decidiram fuçar as escolhas da Rússia e Catar para sediarem as próximas copas.
Apenas para incomodar o poderoso chefão de Moscou, há as alegações publicadas pelo Sunday Times de Londres de que Putin determinou que oligarcas de sua confiança costurassem acordos “negáveis” para garantir votos na Fifa para a concorrência russa, vencida em 2010.
De acordo com o jornal, estas versões foram vazadas para o comitê britânico que competia com os russos para sediar a copa.
Putin gosta de outro tipo de gente que vaza informações.
Ele consegue colocar no mesmo camarote Don Blatterone e os vazadores de informações Edward Snowden (asilado na Rússia) e Jules Assange.
O poderoso chefão de Moscou alega que os americanos “perseguem” esta nobre troica.
Todos são paladinos heróicos que resistem às pressões americanas.
Esta, aliás, é a narrativa dele.
Putin resiste à agressão ocidental na Ucrânia, embora tenha o pudor de não intervir diretamente na guerra civil, como alegam os simpatizantes dos fascistas que mandam em Kiev (na quinta-feira, Putin assinou um decreto para acobertar as provas de que as tropas russas combatem contra o Exército ucraniano no leste do país).
Vladimir Putin é um craque da jurisdição extraterritorial.
A reação de Putin era previsível. Ele sempre recorre à lenga-lenga sobre a petulância americana para usar sua posição de única superpotência para dominar os outros povos.
A narrativa é reforçada pela denúncia de que os “júniors” (os europeus) também estão pedindo a cabeça de Don Blatterone.
Portanto, é necessária a união dos russos com tantas nações da Ásia, África e América Latina para garantir a reeleição de Blatter (um país, um voto, uma propina).
O bate-bola de Putin neste escândalo da Fifa é mais um bate-boca ao estilo Guerra Fria e pode se tornar mais um foco de tensão entre Rússia e EUA.
No seu editorial na edição corrente, a revista The Economist reconhece que em algumas situações a jurisdição extraterritorial americana peca pelo excesso de zelo, mas não neste caso da Fifa.
Na expressão da revista, a atuação dos EUA “merece a gratidão” dos torcedores de futebol no mundo inteiro.
Alguns infelizmente preferem torcer pelo cinismo e ressentimento de Vladimir Putin, cabo eleitoral de Don Blatterone.