Com o cerco da Justiça norte-americana se fechando cada vez mais sobre os membros da cúpula da Fifa, Joseph Blatter anunciou na terça-feira (2) sua renúncia ao cargo de presidente da entidade.
Seus 17 anos de reinado deixam como legado uma instituição enlameada pelo maior escândalo de corrupção da história do futebol.
Não se imagine, contudo, que a saída de Blatter represente a salvação da organização ou de sua imagem -- nem mesmo o simples estancamento da crise que ora atinge a federação internacional.
PUBLICIDADE
Ainda está por ser conhecida toda a extensão do esquema de propinas descrito por autoridades norte-americanas, mas o que os investigadores já sabem bastou para levar à prisão sete dirigentes da Fifa, sob acusações como extorsão, fraude e lavagem de dinheiro.
Além disso, Blatter planeja ficar no comando da entidade por pelo menos mais seis meses -- a nova eleição deve ocorrer em alguma data entre dezembro deste ano e março de 2016.
Por enquanto, não surgiu nome de consenso para suceder ao cartola nem se presume como se comportarão as federações nacionais que apoiavam o suíço.
Seu afastamento, afinal, deu-se meros quatro dias após ter sido reeleito. Por 133 votos contra 73 do príncipe jordaniano Ali bin Al-Hussein, obtivera o quinto mandato consecutivo à frente da Fifa.
Um dia depois do triunfo, Blatter ainda procurava demonstrar confiança. Em entrevista a um canal suíço de TV, insinuou que a atuação norte-americana seria, na verdade, fruto de revanchismo dos EUA pelo fato de terem perdido a disputa para sediar a Copa do Mundo de 2022, a ser realizada no Qatar.
Na segunda-feira (1º), porém, vieram à tona documentos que indicavam o envolvimento de Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa e braço direito de Blatter, na transferência de US$ 10 milhões para dirigentes da Concacaf, confederação das Américas do Norte e Central.
O dinheiro teria sido usado na compra de apoio à candidatura da África do Sul para a Copa de 2010.
Em outro flanco, patrocinadores da Fifa se mostravam receosos de que eventual ação policial contra o suíço respingasse sobre as marcas.
Nada disso, no entanto, foi mencionado por Joseph Blatter.
O cartola limitou-se a dizer que sentia ter perdido o apoio de "torcedores, jogadores, clubes, pessoas que vivem, respiram e amam o futebol".
Blatter, ao que tudo indica, cometeu inúmeros erros, mas não se pode dizer que sua conclusão esteja equivocada.
Os amantes do futebol de fato não o apoiam --desejam que a Fifa seja uma instituição transparente e honesta, capaz de gerir de forma limpa e idônea o esporte mais popular do planeta.