O filho do agricultor 09/06/2015
- JOÃO GUILHERME SABINO OMETTO*
Várias propriedades agropecuárias brasileiras, de distintos portes, desenvolvidas ao manejo da enxada, suor e trabalho pelos antigos donos e descendentes, são administradas por herdeiros com diplomas e pós-graduados. Eles agregam ao precioso legado dos pais e avôs o valor de sua formação acadêmica.
Muitos desses novos gestores são movidos por ansioso desejo de promover mudanças, a começar pela redução dos custos. Dos insumos aos recursos humanos, das máquinas ao arame farpado das cercas, passando pelo aperto dos fornecedores, movem-se por incontrolado impulso de economizar.
Princípio corretíssimo, desde que aplicado na medida certa. Cortar itens de modo exagerado pode significar o colapso da produção e do lucro. Essas histórias costumam ter final feliz, pois a experiência do pai equilibra a equação.
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Análogo a esses deliciosos e verídicos "causos" do campo, é o esforço fiscal do governo, capitaneado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Não há dúvida de que diminuir despesas é prioritário, mas é preciso respeitar os limites do arrocho das empresas e investimentos públicos. Ou a economia padecerá.
Cabe, portanto, uma análise do ajuste fiscal que está em curso. O primeiro aspecto refere-se ao decreto nº 8.434/15, da presidente Dilma Rousseff, que fixa teto de R$ 18,9 bilhões para o Programa de Aceleração do Crescimento, nos cinco primeiros meses de 2015. Em relação ao valor do mesmo período de 2014, de R$ 26 bilhões, a queda é de 27%.
Já para as despesas discricionárias dos ministérios, passíveis de manejo, o limite é de R$ 78,5 bilhões, 2,5% a menos do que os R$ 80,5 bilhões de 2014. Não seria melhor tirar menos do PAC, que gera empregos e renda, e mais do custeio?
O esforço fiscal também está subtraindo recursos das empresas, considerando o aumento de impostos. Há, ainda, medidas provisórias que limitam o seguro-desemprego, auxílio-doença e pensão por morte. Isso, além da questão social, significa menos dinheiro no consumo e mais estagnação.
Outra proposta enviada ao Congresso reduz muito a desoneração da folha de pagamento. Se aprovada, as empresas serão oneradas num momento em que suas margens estão pressionadas pelo aumento dos juros, inclusive os do BNDES. Cai o incentivo tributário e cresce o custo de produzir. Há, ainda, a majoração da energia elétrica.
Todos concordam com a meta de superavit primário de 1,2% do PIB. A redução das despesas e o aumento de arrecadação, porém, precisam ser bem direcionados, ter foco correto e garantir um mínimo de fôlego para a economia.
Há alternativas para os cortes, como diminuir o dinheiro do fundo partidário, os elevados custos com os quase 30 mil ocupantes de cargos em comissão no governo federal, controle de viagens de funcionários, eventos e gastos não prioritários. E isso vale para todas as instâncias dos três Poderes.
Ninguém deseja que o Estado seja o pai de todos e distribua benesses às empresas, mas também não queremos que aja como o radical filho do agricultor.
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JOÃO GUILHERME SABINO OMETTO, 75, engenheiro, é vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo São Martinho e vice-presidente da Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo