No afã de gerar alguma notícia positiva, o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) não se importou em lançar o mais novo pacote bilionário de investimentos em infraestrutura bem na semana em que se completa um ano da abertura da Copa do Mundo no Brasil, evento que deixou um enorme rastro de obras inacabadas.
Conforme mostrou reportagem desta Folha no domingo (7), pelo menos 35 projetos de transporte coletivo e aeroportuários nas 12 cidades-sede ainda não ficaram prontos e apresentam as conhecidas mazelas de atrasos, estouro no orçamento, suspeitas de corrupção e erros de execução.
No caso do transporte público, setor que chegou a ser indicado como o maior beneficiário do legado da Copa, somente 21,4% das obras de grande porte do plano inicial foram inauguradas.
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Um dos maiores descalabros é o VLT (trens leves sobre trilhos) de Cuiabá. Orçado inicialmente em R$ 700 milhões, o projeto tem agora seu custo estimado em R$ 2,5 bilhões e é alvo de uma CPI devido a indícios de desvio de recursos.
Como de praxe, o atraso tende a elevar os gastos com a empreitada. Pior, sem previsão para que o VLT entre em operação, os 40 trens comprados por R$ 500 milhões estão parados em um pátio e sofrem desgaste pela falta de uso.
Em São Paulo, a única obra de transporte público prevista no plano original, o monotrilho da linha 17-Ouro, ficou de fora do marco da Copa após a mudança dos jogos do Morumbi (zona oeste) para o Itaquerão (zona leste).
Com isso, a construção entrou na rotina de atrasos do metrô paulista, e sua conclusão passou de 2013 para 2017.
Outra decepção são os aeroportos, com 12 promessas não cumpridas até agora. É o caso de Fortaleza, onde apenas 16% das obras do novo terminal foram realizadas.
Além de lentos, os trabalhos costumam ter erros de projeto e execução -- às vezes resultando em tragédias. Em plena Copa, a alça sul do viaduto Batalha dos Guararapes, em Belo Horizonte, desabou.
Duas pessoas morreram e outras 23 ficaram feridas num episódio de resto previsível, segundo o inquérito, dado o "desprezo às normas mínimas de segurança".
O país sem dúvida precisa de vultosos investimentos em infraestrutura e logística, mas é no mínimo difícil acreditar em novos pacotes quando parece interminável a lista de projetos incompletos, que inclui não só o "legado da Copa" mas também a transposição do rio São Francisco, entre tantos outros.