Agronegócio sob condições adversas e sem regras para o fair play 12/06/2015
- José Luiz Tejon Megido*
Agronegócio no Brasil é uma olimpíada disputada a cada ano. Só que sob condições incertas e adversas, nunca dentro de instalações para alta performance, e com regras que promovam o fair play.
Saiu o PAP -- Plano Agrícola e Pecuário: mais cerca de R$ 30 bilhões no crédito agrícola, porém com aumento de juros -- esse é o salto do gato.
Safra passada tivemos R$ 156,1 bilhões de crédito agrícola. Safra 2015/2016, teremos R$ 187,7 bi. Para o custeio teremos mais crédito, porém a juros controlados, que crescem de 4,5% para 7,5%, e produtores com receita acima de R$ 90 milhões, pagam 9% de juros controlados.
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Existirão apenas R$ 94,5 bilhões, ou seja, apenas 7,5% a mais em recursos comparado ao ano passado.
O setor reclama que os custos de produção cresceram 15%, e que a inflação será maior do que o montante do recurso oferecido para custeio a juros controlados.
No custeio a juros livres, o aumento foi de 130% na disponibilidade, saindo de R$ 23 bi, para R$ 53 bi.
Mas juros livres leia-se na faixa de 17% a 23% ao ano.
Para investimentos, o total dos recursos diminuíram 24% comparado ao ano passado, também dentro dos juros controlados.
Ou seja, o aumento da oferta de crédito, de verdade, está se dando a juros livres, que poderão variar conforme a instituição financeira, de 17% a 23% ao ano.
Outras preocupações do campo estão no modelo de seguro rural, que apenas inicia neste ano com o SIS RURAL -- Sistema Integrado de Informações do Seguro Rural, e a eterna dúvida da chegada dos recursos a tempo hábil na mão dos produtores.
O pessoal do arroz reclama de não consideração dos custos do arroz irrigado, responsável por 90% do arroz consumido no Brasil, que teve consideráveis aumentos de energia elétrica, após a promessa de que o custo da energia ia cair no país.
E o programa da agricultura de baixo carbono, essencial para o posicionamento de sustentabilidade do agronegócio brasileiro, perdeu 1/3 dos recursos na próxima safra, caindo de R$ 4,5 bi, para R$ 3 bi.
Quer dizer, dentro da circunstância dos ajustes econômicos nacionais, há um olhar positivo pelo aumento dos recursos.
Porém, considerando o nível da incerteza sempre presente na atividade agropecuária, que não domina preços, tem custos logísticos infernais no país, além de burocracia paralisante, encarecendo e ampliando o risco da atividade, os juros obrigarão cada produtor a ser um atleta olímpico.
A consequência é cada vez mais uma seleção forçada, onde apenas os extremamente mais vocacionados e atléticos superam.
Injusto com a grande maioria dos produtores brasileiros, e com a necessidade imperiosa de aumento do empreendedorismo e do cooperativismo no campo.
A Olimpíada no Brasil existe todo ano, nos campos da agropecuária.
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*José Luiz Tejon Megido, conselheiro fiscal do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), dirige o Núcleo de Agronegócio da ESPM e comentarista.