Lula só pensa em salvar a própria pele 23/06/2015
- Blog de Rodrigo Constantino - Veja.com
Preciso interromper minhas reflexões mais profundas sobre Magna Carta e liberdade aqui em Estoril para comentar a fala mais recente do ex-presidente Lula.
Ele disse certas verdades, talvez pela primeira vez na vida.
É fato que não foi um desabafo sincero e espontâneo, mas uma estratégia oportunista (mais à frente).
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Ainda assim é interessante ter Lula dizendo aquilo que nós já falamos há anos, e deixando o PT sem reação.
Os petistas só pensam em cargo, em preservar seus empregos, disse o Brahma.
É, portanto, o “partido da boquinha”, como Garotinho, outro contumaz oportunista, já acusou certa vez.
Rui Falcão reage: silêncio.
Um ensurdecedor silêncio.
Quem cala consente?
Eis o que disse Lula:
"Eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia. Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos, como a gente chorava quando a gente mesmo falava, tal era a crença.
Hoje nós precisamos construir isso porque hoje a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito e ninguém hoje mais trabalha de graça.
[...]
O PT precisa urgentemente voltar a falar pra juventude tomar conta do PT. O PT está velho. Eu, que sou a figura proeminente do PT, já estou com 69 (anos), já estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que eu falava em 1980.
Fico pensando se não está na hora de fazer uma revolução neste partido, uma revolução interna, colocar gente nova, mais ousada, com mais coragem.
Temos que decidir se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos, ou queremos salvar nosso projeto. E acho que nós precisamos criar um novo projeto de organização partidária nesse país."
Sim, o PT está velho.
Sim, o PT “perdeu” a utopia.
Sim, o PT só quer saber de cargos e empregos (nunca de trabalho).
Sim, Lula está falando as mesmas coisas dos anos 80.
Como disse o presidente da Mercedes-Benz em entrevista recente à Folha, o Brasil regrediu uns 20 anos mesmo, e não há mais previsibilidade política ou econômica.
E Lula “voltou” a fazer aquilo que faz melhor: oposição ao próprio governo, à sua criatura Dilma, que ele já disse ser ele mesmo em outra forma.
O sindicalista voltou com tudo, repetindo bravatas, clamando por uma utopia.
O PT sempre foi dividido basicamente em dois grupos: o dos utópicos e o dos oportunistas.
No primeiro, os “intelectuais” alienados que sempre sonharam com o socialismo, que amam as ideias mais do que os fatos, que precisam dar vazão à sua angústia existencial pregando soluções mágicas ou vendo o circo pegar fogo para aplacar seu niilismo.
No segundo, os que enxergavam nesse discurso um projeto de poder, uma oportunidade para mamar nas tetas estatais.
Lula nunca foi um idealista utópico.
Quando ele reclama que falta utopia no PT de hoje, sendo que é simplesmente o principal responsável por destruir o sonho dos utópicos, ele está sendo oportunista uma vez mais.
Ele entende que sem essa utopia fica difícil preservar as boquinhas e o poder.
Ele sabe que, no fundo, a batalha principal é no campo das ideias, e que não as mentes, mas os corações dos jovens precisam ser conquistados novamente com a venda de falsos sonhos.
O PT sofre com a fadiga do poder, com os infindáveis escândalos de corrupção, e as impressões digitais dos nove dedos de Lula estão em todas as cenas do crime.
O PT está afundando como resultado inexorável de suas práticas nefastas e sua visão ultrapassada de mundo.
Não dá para dissociar a utopia antiga do fracasso no governo.
Simplesmente todas as experiências intervencionistas de esquerda falharam no mundo.
Diante dessa realidade, os oportunistas precisam dos utópicos uma vez mais, para requentar os velhos sonhos, ainda que sob nova embalagem.
O importante é não parar de vender falsas esperanças, para que as tetas estatais continuam ofertando recursos públicos para os parasitas.
O PT não passa disso hoje: com a debandada dos utópicos, hoje no PSOL, restaram apenas os oportunistas.
E Lula sabe que esse é o caminho da morte política.
Por isso, e só por isso, ele fez esse “desabafo”, que parece, para os mais ingênuos, algo genuíno.
Como já disse aqui, não haveria Lula sem os “intelectuais” por trás.
Lula sabe disso.
Por isso chama os “católicos” da CNBB de volta ao jogo.
Por isso quer os utópicos engambelando os jovens novamente.
Por isso reclama do envelhecimento do seu partido, da cobiça pura e simples por cargos.
É a última tentativa que os oportunistas, liderados por Lula, têm de salvar a própria pele.