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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Dilma encheu a cara de cauim?
24/06/2015 - Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com

Dilma Rousseff espalhou sobre si mesma, ou alguém o fez por ela, a fama de leitora voraz.

Lula, ao contrário, nunca quis se misturar com os livros. “Ler dá sono”, ele sentenciou certa feita.

Depois do discurso que fez a presidente ontem, terça, na cerimônia de lançamento da primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, tenho de concluir que é melhor um petista dormindo do que ministrando aula de antropologia amadora.


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Os tais jogos ocorrerão em Palmas, no Tocantins, entre 20 de outubro e 1º de novembro.

A presidente estava mesmo com Anhangá no corpo.

A mulher já cansou dessa conversa de ter de governar o Brasil.

Joaquim Levy cuida da economia, e os peemedebistas têm de tourear os petistas na política.

A ela sobrou o quê?

O vasto terreno da reflexão.

E ela mandou brasa na cerimônia havida no estádio Mané Garrincha, em Brasília.

Cantou as glórias da mandioca.

Destaco um trecho transcrito em reportagem da Folha:

“Nenhuma civilização nasceu sem ter acesso a uma forma básica de alimentação, e, aqui, nós temos uma, como também os índios e os indígenas americanos têm a deles. Temos a mandioca, e aqui, nós estamos e, certamente, nós teremos uma série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento de toda a civilização humana ao longo dos séculos. Então, aqui, hoje, eu tô saudando a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil”.

Tudo isso saiu, assim, de repente, num supetão, em reflexão certamente originalíssima.

Um índio que estivesse com a cara cheia de cauim, a bebida de mandioca fermentada que deixava os nativos doidões, não teria produzido nada melhor.

Ela não parou por aí, não.

Resolveu evocar a Grécia antiga, relata o Estadão:

“Foi em torno da paz que se recompôs aquilo que era a tradição grega que é transformar os jogos em um momento de união. Transformamos em um momento especial uma fase difícil do mundo que foi o entre guerras”.

O barão Pierre de Coubertin se revirou no túmulo, né?

Os primeiros jogos olímpicos da era moderna se deram em 1894, não no período entre guerras.

Que diferença faz?

Anhangá estava no comando.

Dilma discursou segurando uma bola feita de folha de bananeira.

Havia chegado a hora da poesia antropológica.

Refletiu então:

“Aqui tem uma bola, uma bola que eu acho que é um exemplo. Ela é extremamente leve, já testei aqui, testei embaixadinha, meia embaixadinha... Bom, mas a importância da bola é justamente essa, é símbolo da capacidade que nos distingue”.

Não entendeu nada, leitor amigo?

Vem a explicação:

“Nós somos do gênero humano, da espécie sapiens, somos aqueles que têm a capacidade de jogar, de brincar, porque jogar é isso aqui. O importante não é ganhar e sim celebrar. Isso que é a capacidade humana, lúdica, de ter uma atividade cujo o fim é ele mesmo, a própria atividade. Esporte tem essa condição, essa bênção, ele é um fim em si. E é essa atividade que caracteriza primeiro as crianças, a atividade lúdica de brincar. Então, para mim, essa bola é o símbolo da nossa evolução. Quando nós criamos uma bola dessas, nós nos transformamos em homo sapiens ou mulheres sapiens”.

Por Tupã!

Nós, os humanos modernos, somos do gênero “Homo”, da espécie “Homo sapiens”, da subespécie “Homo sapiens sapiens”.

Dilma fez uma salada taxinômica que resultou no que só pode ser um gracejo, a “mulher sapiens”, já que “homo” de “Homo sapiens sapiens” não se refere nem a homem nem a mulher -- na verdade, nem ao ser humano como o conhecemos, que pertence ao gênero “homo”, mas não é o único.

Antes houve o Homo neanderthalensis, o Homo habilis, o Homo erectus, que ainda não cultivava a mandioca...

O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que tem o apelido de “Índio”, estava entre os presentes.

Dilma resolveu exaltar as suas qualidades adivinhatórias, já que meio indígena:

“Se ele pular uma janela, pode pular atrás porque pode ter certeza de que ele achou alguma coisa absolutamente fantástica”.

A humanidade estava preparada para tudo, menos para o surgimento de uma derivação teratológica do “Homo sapiens sapiens”, que é o “Homo sapiens stultus”, o humano tipicamente petista, capaz de dizer e de fazer as mais grotescas estultices.


  

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