Lula convoca a contrarrevolução 25/06/2015
- Sérgio Malbergier - Folha de S.Paulo
Lula está na sua essência nessa última batalha pela sobrevivência, buscando forças onde não tem, acuado, agressivo, culpando os outros.
Seu instinto andava falhando, achava que as coisas iam se resolver dentro da mística vitoriosa dos últimos 13 anos.
Mas o Congresso do PT em Salvador, que seria redentor, foi constrangedor. Só ficou a ovação calorosa ao ex-tesoureiro do partido, preso em Curitiba, presente em espírito.
PUBLICIDADE
O PT acabou entrando num beco sem ver saída, prisioneiro de grandes mentiras e de comprometedoras verdades.
A reeleição de Dilma, depois do fracasso ululante do primeiro mandato, em meio à crescente onda do petrolão, quase quebrando o Tesouro Nacional, pode ter sido o ápice e o gran finale do antigo regime, a esticada da corda antes de ela arrebentar.
Os depoimentos dos políticos investigados no petrolão, que começam a ter publicidade, já expõem as vísceras do sistema.
O ministro Teori Zavascki terá o privilégio de relatar ao país como os políticos destroem o país.
Um ex-deputado, por exemplo, alegou que "perdeu parte da memória" depois de uma encefalopatia provocada por hepatite C.
Um senador disse que guardava R$ 545 mil em sua casa porque seus filhos empresários lhe faziam doações regularmente.
Imagina o que vem por aí.
A forma desinibida como o governo mentiu na campanha eleitoral e a forma desinibida como logo depois fez tudo o contrário cobra seu preço.
Sempre foi perigoso governar subestimando a inteligência do eleitor, que está cada vez mais informado.
O PT agora caminha para o paredão eleitoral no ano que vem como quem caminha para o abate, sob a crescente sombra do petrolão e da crise econômica produzida por Dilma.
E se a presidente foi a toda poderosa no Dilma 1, despertando o espírito animal do burocrata missionário da esquerda brasileira, no segundo mandato, até aqui, é um juiz federal no Paraná que comanda o espetáculo.
Nunca antes na história um juiz teve tanto poder. Joaquim Barbosa era um voto em 11. Moro é morocrático.
Um magistrado que é a outra face da burocracia missionária brasileira.
Pressionado pelas ruas, o sistema está se depurando por dentro antes de ser forçado a fazê-lo por fora, o que traria riscos ainda maiores.
Lula pede revolução aos petistas, mas a revolução está em Curitiba, comandada por juízes, procuradores, policiais.
É o que há de mais novo no cenário brasileiro, seguido pelo despertar político das elites, que puxa o despertar político das massas críticas.
O PT é o establishment político. Não tem outra opção do que se opor à novidade.
Como fez Lula, ao sugerir que o governo e o partido reajam contra a Lava Jato.
O partido da esperança virou o partido da vã esperança de manter as coisas como estão.
Lula pedindo revolução é na verdade Lula pedindo contrarrevolução.