A fala mais estúpida de Dilma em cinco anos 30/06/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
A presidente Dilma Rousseff está tomando algum remédio?
Está ainda sob os efeitos daquela droga, ou, sei lá, daquela entidade, que a fez saudar a mandioca e que a levou a concluir que só nos tornamos “homo sapiens” -- e “mulheres sapiens”, para aderir à sua particular taxonomia -- depois que fizemos uma bola com folha de bananeira?
Por que pergunto isso?
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Dilma está em Nova York e decidiu falar sobre a delação de Ricardo Pessoa, dono da UTC, que confessou ter feito doações ilegais ao PT e ter repassado R$ 7,5 milhões à campanha presidencial do partido porque se sentiu pressionado por Edinho Silva.
A presidente avançou num terreno perigosíssimo de dois modos distintos, mas que se combinam.
Sobre as doações, afirmou:
“Não tenho esse tipo de prática [receber doações ilegais]. Não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou sobre minha campanha qualquer irregularidade. Primeiro, porque não houve. Segundo, porque, se insinuam, alguns têm interesses políticos”.
Trata-se de um daqueles raciocínios de Dilma que flertam com o perigo e que atropelam a lógica.
Pela lei, a candidata é, sim, responsável pelas contas de campanha.
Mas todos sabem que isso sempre fica a cargo de terceiros no partido.
Quem disputa eleição não se ocupa desses detalhes.
Dilma ainda teria esse acostamento para reparar danos.
Mas ela é quem é: a partir da declaração de hoje, assume inteira responsabilidade política pelas doações.
Logo, se ficar evidenciado que houve dinheiro ilegal, foi com a sua anuência.
É ela quem está dizendo.
Quanto à lógica, como é mesmo, presidente?
“Se insinuam que há dinheiro ilegal, alguns têm interesse político”?
Bem, tudo sempre tem interesse político, né?
A existência do dito-cujo exclui a ilegalidade.
Mas Dilma ainda não havia produzido o seu pior.
Resolveu sair-se com esta:
“Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas, e garanto para vocês que resisti bravamente. Até, em alguns momentos, fui mal interpretada quando disse que, em tortura, a gente tem que resistir, porque se não você entrega seus presos.”
A fala é de uma estupidez inigualável, talvez a pior produzida por ela.
A conversa sobre mandioca e bola de folha de bananeira integra apenas o besteirol nacional.
Essa outra não. Vamos ver, pela ordem:
1 – Dilma compara situações incomparáveis; no tempo a que ela se refere, havia uma ditadura no Brasil; hoje, vivemos sob um regime democrático;
2 – consta que ela foi torturada; por mais que se queira, hoje, associar determinadas pressões a tortura, trata-se de mera figura de linguagem;
3 – Dilma exalta a sua capacidade de resistência e disse que mentiu mesmo sob tortura, o que gerou certa confusão, com a qual ela soube lucrar;
4 – como não concluir que ela está sugerindo que ou Ricardo Pessoa (e o mesmo vale para os demais delatores) deveria ter ficado de boca fechada ou deveria ter mentido?;
5 – querem avançar nas implicações da comparação?
O Brasil era, sim, uma ditadura, mas Dilma, era, sim, membro de um grupo terrorista.
O estado brasileiro era criminoso, mas o grupo a que ela pertencia também era.
Se ela faz a associação entre os dois períodos, está admitindo que os crimes de agora existiram, sim, mas que os delatores deveriam ficar calados;
6 – eu não tenho receio nenhum de dizer que um delator não é o meu exemplo de ser humano, mas não sou diretamente interessado no que ele tem a dizer; Dilma sim;
7 – ao afirmar o que afirmou, Dilma não está se referindo apenas a Pessoa, mas a todas as delações.
Na prática, desqualifica toda a operação que, a despeito de erros e descaminhos, traz à luz boa parte da bandalheira do petismo.
Dilma está tentando jogar areia nos olhos da nação.
O que tem a ver as agruras que sofreu com esse momento da história brasileira?
Sobra sempre a suspeita de que, em razão de seu passado supostamente heroico, deveríamos agora condescender com a bandalheira.
O país foi assaltado por uma quadrilha.
Uma quadrilha que passou a operar no centro do poder.
E a presidente pretende sair desse imbróglio desqualificando toda a investigação e ainda posando de heroína.
Dilma falando sobre mandioca e bola de folha de bananeira é uma poeta.