Investidores de Nova York questionam se Brasil ainda é emergente 30/06/2015
- Marcos Troyjo*
Dilma Rousseff viaja aos EUA no mais difícil contexto desde que Wall Street inventou o "lulômetro", em 2002, para mensurar o risco financeiro do país.
Naquela época, o grande assunto eram as inconsistências políticas e macroeconômicas brasileiras. Hoje, o tema é o mesmo.
Se há 13 anos se temia o caos com a vitória da incógnita Lula, agora o sentimento é o de um país preso a uma camisa de força político-institucional.
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Sem reformas, o melhor cenário possível é estampar em 2018 quatro mandatos presidenciais com crescimento médio de 2%.
Os mais otimistas entendem que a visita de Dilma aos EUA ajuda a mudar o pessimismo vigente. A retomada do diálogo com Washington é importante.
Obama, no entanto, tem na Ásia-Pacífico sua prioridade e só mais 18 meses de mandato. A agenda governo a governo que inclua acordo comercial ficará para o próximo presidente.
A ida ao Vale do Silício é instrutiva. O obstáculo à inovação no Brasil não é, contudo, o desinteresse das gigantes tecnológicas, mas o estatismo e a burocracia.
Assim, o que pode haver de mais imediatamente impactante é a reação de Wall Street.
Hoje, o nível de interesse de investidores americanos em participar de programas em infraestrutura passa por um "rescaldo".
De um lado, continuação do investimento de empresas que decidiram estabelecer ou ampliar operações no país durante a "brasilmania" de 2010-11.
De outro, o subdesempenho da economia brasileira no último quadriênio -- e particularmente nos últimos 12 meses -- tem sido um freio a um novo fluxo de investimento estrangeiro direto (IED).
Como resultado, os investimentos atraídos a novos programas de infraestrutura se darão de maneira mais gradual do que o Brasil supõe.
É um erro ver o apetite americano por concessões como panaceia.
Intervenções recentes em políticas de preço na eletricidade e na gasolina; o sucateamento das agências reguladoras e a inflexibilidade nas regras de conteúdo local continuam a desestimular investidores.
Recuperar a confiança demanda tempo e inflexão de rumo por parte do governo.
Nesses próximos 18 meses haverá, contudo, significativo capital canalizado por Wall Street para M&As (fusões e aquisições).
Será motivado pela combinação de fatores como o tamanho comparado da economia brasileira e o preço relativo mais baixo dos ativos no Brasil – resultante da desaceleração do PIB e desvalorização do real.
Dilma reuniu-se com titãs das finanças. Ninguém teme o pior. Falou também para grandes investidores em infraestrutura.
Com base na frustrante experiência recente, ninguém morreu de amores.
A conclusão da passagem de Dilma por Nova York é que ninguém questiona o status do país como destino atraente. A dúvida é se o Brasil ainda é um mercado emergente.
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Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas.