Pergunta aos progressistas 02/07/2015
- Blog de Rodrigo Constantino - Veja.com
A grande maioria da população brasileira estava ainda lambendo as feridas da derrota da PEC que reduziria a maioridade penal quando uma manobra do sempre sagaz Eduardo Cunha fez com que outra medida, mais amena, fosse aprovada.
Não vou entrar no mérito se isso é bom ou ruim para a democracia, da forma que foi feito.
O que desejo, aqui, é somente fazer uma pergunta aos “progressistas”, e espero obter respostas sinceras após a devida reflexão.
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Não falo, naturalmente, àqueles que defendem sempre bandidos por afinidade mesmo, por desvio de caráter, por cumplicidade.
Também não falo aos que resumem a questão a um simplismo infantil do tipo “bonzinhos rejeitam medida fascista e fascistas querem se vingar de pobres crianças por serem insensíveis”, pois algo tão patético eu deixo para os coleguinhas do Jean Wyllys.
O que eu quero saber, e daqueles que estão realmente dispostos a debater com honestidade intelectual e querem o melhor para o país, é se mesmo uma redução mais restrita, apenas para alguns crimes hediondos e deixando de fora tráfico de drogas e roubo qualificado, ainda soa como algo medieval ou como sede de vingança por parte de uma elite insensível.
Essa gente está disposta a sustentar que quase 90% dos brasileiros têm inclinação fascista?
Eis a pergunta: vocês realmente acreditam que um galalau de 17 anos que estupra e mata mulheres inocentes só fez isso porque não teve mais aulas de português ou matemática?
Sério?
Até onde vai o romantismo de vocês, a ponto de cegá-los dessa forma?
Podem citar Betinho e companhia, podem repetir slogans sensacionalistas, alegando que quando “abandonamos” a criança, desistimos do homem, e podem insistir que o mais importante é garantir boa educação para impedir o crime.
Mas pergunto novamente, e não precisa responder de imediato: o moleque estupra uma mulher indefesa e depois a mata porque não aprendeu a fazer conta de multiplicação?
Sei que muitos de vocês cresceram escutando as ladainhas dos professores e “intelectuais” de esquerda, que possuem uma visão romântica do mundo, influenciada por Rousseau, que desejam muito enxergar as “crianças” como seres puros e angelicais que, se não forem desvirtuados pela “sociedade”, se tiverem melhores oportunidades, jamais serão bandidos.
Alguns ainda repetem a falácia do crime famélico, ou seja, garotos roubam por fome e desespero, algo refutado pelas estatísticas e evidências.
Mas nem quero tratar deles aqui.
Como roubo qualificado e tráfico de drogas ficaram de fora da medida, quero falar estritamente dos casos de estupro e assassinato.
Vamos lá, psicanalistas, sociólogos, historiadores, antropólogos e demais das áreas de Humanas: vocês realmente acham que um marmanjo de 16 anos arranca as tripas de uma vítima inocente porque não teve aulas sobre as maravilhas do marxismo?
É isso que estão a defender?
Reparem bem num detalhe: vocês podem até alegar que esses monstros não seriam criados se houvesse mais investimento em educação por parte do governo.
Também não vou entrar nesse mérito, o que já rebati em outros textos, atacando esse modelo atual de ensino público ou argumentando que a maldade existe, independentemente da classe social (como vocês reconhecem, ao destilarem ódio aos criminosos “bacanas”).
O foco aqui é outro: partindo da premissa de que esses “garotos”já se transformaram nesses monstros, capazes de estuprar e matar pessoas inocentes, o que fazer com eles?
Colocá-los nas escolas?
Sério?
Percebem como acusar a maioria da população de “fascista” não faz o menor sentido?
O que exatamente vocês querem fazer com rapazes que degolam vítimas inocentes?
Colocar para brincar de lego e ler poesia?
Acham mesmo que essa é uma resposta razoável?
Acham que se esses assassinos e estupradores receberem penas leves alternativas e saírem depois de poucos anos sem registro criminal serão advogados, médicos ou psicólogos decentes, apenas carregando uma “pequena” mancha no currículo de ter estuprado e matado gente no passado?
Sei que a maioria de vocês não vai responder com sinceridade, ou sequer parar para refletir sobre o que está sendo dito.
O romantismo é poderoso, a ideologia idem, assim como o desejo de preservar a imagem de abnegado perante seus pares.
Poucos de vocês terão a coragem de absorver o que foi dito aqui e regurgitar em cima disso, para concluir com honestidade o que deve ser feito com esses criminosos.
Mas escrevo para esses poucos.
Não posso desistir de vocês, pois sei como uma sensibilidade mal calibrada, a covardia ou a pressão do grupo podem levar à defesa de bandeiras absurdas.
Esqueçam por um segundo o ódio ao Eduardo Cunha, visto como o grande Capeta no Brasil, um país que tem Lula, Dirceu e companhia.
Esqueçam Bolsonaro também.
Esqueçam todos aqueles que repetem que bandido bom é bandido morto.
Eu quero saber apenas uma coisa: vocês realmente acham que alguém estupra e mata por falta de escola, e que quem estupra e mata aos 16 anos ainda tem salvação?