Corra, Dilma, corra! 08/07/2015
- ANA ESTELA DE SOUSA PINTO - FOLHA DE S.PAULO
Alice tem Alzheimer. Tinha destaque numa universidade de ponta, família encaminhada, 50 anos com fôlego e saúde.
Uma proteína anormalmente produzida formou placas, porém, no seu cérebro; átomos de fósforo em massa criaram emaranhados com outra proteína, e ela passou a esquecer palavras, depois caminhos, pessoas.
Tarde demais, diz o médico ao casal atônito: quem tem muitos recursos intelectuais cria estratégias para contornar os danos da doença.
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Quando os sintomas incomodam, o mal já se tornou crítico.
O Brasil é a Alice dos recursos naturais.
A crise é feia?
"O país é grande", respondem: temos água, terra, sol e gente em abundância. Que gastamos em abundância, enquanto acumulamos placas de ineficiência.
Estamos no 61º lugar do ranking global de inovação, mas plantamos muita soja.
Perdemos de 120 países na atratividade a negócios, mas na entressafra da soja plantamos milho.
Somos os reis do boi e da galinha.
Mas queimamos um terço dessas riquezas em nossas estradas e portos.
Tratamos pessoas como porcos e pés de cana -- temos muitos braços.
E assim, metade dos alunos não consegue interpretar textos, estamos no mais baixo nível de aplicação científica, 2 em cada 3 brasileiros de 15 anos não entendem percentuais, frações ou gráficos.
O país é o penúltimo de ranking global de patentes.
Sobram braços, faltam sinapses.
Por fim, escorados em nossas vantagens competitivas naturais, assistimos a homens públicos (não apenas no Legislativo), como átomos desgovernados de fósforo, formarem grumos perigosos no tecido do país.
Em entrevista à Folha na terça, a presidente Dilma Rousseff prometeu reformas que chamou de "tipo tipo":
"Medidas estruturantes, que contribuem ao mesmo tempo para o ajuste como para o médio e longo prazos".