Muitas maneiras do Brasil dar errado, poucas de dar certo 13/07/2015
- Blog de Geraldo Samor - Veja.com
A coluna transcreve abaixo uma conversa com um investidor de um grande hedge fund americano baseado em Nova York.
O fundo investe tanto nos EUA quanto em países emergentes, e este executivo acompanha o Brasil há muitos anos.
A conversa mostra as variáveis que estão em jogo hoje, quando os gestores internacionais têm que tomar a decisão de investir ou não em nossas empresas, moeda e crédito.
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O dono da opinião abaixo só ganha dinheiro se fizer apostas certas, é obrigado a fazer contas todos os dias, tem um distanciamento saudável por não morar aqui, e sempre trabalha comparando o Brasil com outros países.
Pode-se discordar da opinião deste investidor. Pode-se achar que ela é superficial em alguns pontos, ou pessimista em outros.
Só não se pode ignorá-la.
Para onde o câmbio está indo?
- O câmbio "certo" é aquele que equilibra a conta corrente, e a conta corrente tem dois elementos: a balança comercial e o fluxo de capitais.
Só que o capital depende de confiança... Se a confiança evaporar, o câmbio de equilíbrio vai junto; se a confiança se mantem, o câmbio se mantem...
Ainda existe confiança no Brasil, confiança de que existe um plano para reverter os erros do passado e não explodir a coisa toda.
Esse plano é muito ilustrado pelo Levy, mas não é só o Levy.
O arcabouço institucional brasileiro é bem melhor que a média: Rússia, Índia, etc.
Os caras em Brasilia têm um plano, mas tá todo mundo na dúvida se esse plano vai dar certo.
Se não voltar o investimento, e se o PIB não voltar a crescer, esse plano vai para o saco.
Aí pode haver uma resposta populista.
O plano pode dar errado porque esse mix de austeridade pode ser forte demais e matar a galinha.
A política pode explodir na sua mão: pode acontecer alguma coisa maluca.
Antes de cair, a Dilma pode mandar o Levy embora.
Imagina que tenha uma crise global de mercados emergentes, um "flight to quality" [busca generalizada por ativos sem risco], aí o Brasil vai pro saco porque o câmbio se desvaloriza.
Resumindo, há múltiplas maneiras do Brasil dar errado, e poucas maneiras do plano atual dar certo.
Se os juros só começarem a cair em 2017, aí...
É muito tempo para os políticos esperarem.
O político, no final, quer ser eleito, ele quer ficar no poder.
Se ele não puder ficar no poder, ele vai continuar fazendo o ajuste???
Se ele não vai ficar?
Austeridade só funciona como medida de curto prazo.
Você não pega um País indisciplinado e diz, “Faz austeridade aí por cinco anos”...
Junto com a austeridade, você tem que ter a volta do investimento, e isso talvez só aconteça com reformas bem mais profundas.
Se você matar a galinha, ninguém come.
Você está comprado em alguma coisa no Brasil?
Comprei títulos de dívida da Petrobrás em dólares [uma aposta de que o Governo não deixaria a empresa ficar inadimplente].
Também comprei Kroton a 10 reais por ação.
A gente tem olhado situações específicas de boas empresas passando por momentos dramáticos [como foi a mudança nas regras do FIES] e o mercado "overreacting".
Mas de maneira geral, o mercado brasileiro de ações não está barato.
Você tem que se lembrar que eu posso comprar renda fixa no Brasil [que paga 13,75% ao ano, menos os custos de transação e os impostos].
Vocês estão achando que a política está chegando a um ponto de inflexão?
- É uma perda de tempo você querer prever a política. Que a situação é meio instável, é.
O impeachment da Dilma e o Lula indo para a cadeia seria algo bom?
No curto prazo seria uma lambança geral, porque esses caras vão cair fazendo lambança.
E isso é o quê?
Ir para a esquerda radical, falar que tudo é um "complô da direita"...
Você tem que pensar no Brasil como uma empresa.
A qualidade do "management" é horrorosa.
Tivemos umas melhoras na Fazenda e na Petrobras, mas não dá pra esses caras trabalharem sozinhos.
A qualidade do Congresso é medonha!
A única coisa boa é que é um Congresso que não quer perder poder, então não deixa o Executivo passar por cima.