A cabeça dos oligarcas 22/07/2015
- Elio Gaspari - Folha de S.Paulo
Marcelo Odebrecht está preso e foi indiciado pela Polícia Federal. Em sua cela no Paraná, mantém um diário do cárcere.
Os barões da Camargo Corrêa foram condenados e, na oligarquia política, fabrica-se uma crise institucional.
Houvesse ou não uma Lava Jato, a desarticulação do Planalto envenenaria as relações com o Congresso.
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Ademais, essa crise tem um aspecto inédito. De um lado, estão servidores a respeito dos quais não há um fiapo de restrição moral ou mesmo política.
São os magistrados e os procuradores.
Do outro lado está o outro lado, para dizer pouco.
Nunca aconteceu isso na vida pública brasileira.
O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, estaria retaliando o governo ao permitir a criação de uma CPI para investigar os empréstimos dos BNDES.
Há uma armadilha nessa afirmação.
Ela pressupõe uma briga de quadrilhas, com Cunha de um lado e o Planalto do outro.
Ou há esqueletos no BNDES ou não os há.
Se os há, a CPI, bem-vinda, já deveria ter sido criada há muito tempo.
Se não os há, nada haverá.
A verdadeira crise institucional está nas pressões que vêm sendo feitas sobre o Judiciário.
Quem conhece esse mundo garante que nunca se viu coisa igual.
Se as pressões forem bem sucedidas, avacalha-se o jogo.
Cada movimento que emissários do governo fazem para azeitar habeas corpus de empresários encarcerados fortalece a ideia de que há um conluio entre suspeitos presos e autoridades soltas.
Ele já prevaleceu, quando triturou-se a Operação Castelo de Areia.
Em 2009, a Camargo Corrêa foi apanhada numa versão menor da Lava Jato.
Dois anos depois, ela foi sedada pelo Superior Tribunal de Justiça e, há meses, sepultada pelo Supremo Tribunal Federal.
Agora o ex-presidente da empresa e seu vice foram condenados (com tornozeleira) a 15 anos de prisão.
O ex-presidente do conselho de administração levou nove.
Desta vez a Viúva foi socorrida por dois fatores.
O efeito Papuda, resultante da ida de maganos e hierarcas para a cadeia, deu vida ao mecanismo da colaboração de delinquentes em busca de penas menores.
Antes, existiam acusações, agora há confissões.
Já são 17.
A Castelo de Areia não foi uma maravilha técnica, mas a sua destruição será um assunto a respeito do qual juízes não gostarão de falar.
Quem joga com as pretas tentando fechar o registro da Lava Jato sabe que a Polícia Federal e o Ministério Público estão vários lances à frente das pressões.
Da mesma forma, quem se meteu nas petrorroubalheiras sabe que suas pegadas deixaram rastro.
Curitiba dribla como Neymar.
Quando baixa uma carta, já sabe o próximo passo.
Afora os amigos que fazem advocacia auricular junto a magistrados, resta a ideia da fabricação da crise institucional.
Ela seria tão grande que a Lava Jato passaria a um segundo plano.
É velha e ruim.
Veja-se por exemplo o que aconteceu ao vigarista americano Bernard Maddoff:
Na manhã de 11 de setembro de 2001, ele sabia que seu esquema de investimentos fraudulentos estava podre. (Era um negócio de US$ 65 bilhões.)
Quando dois aviões explodiram nas torres gêmeas de Nova York e elas desabaram, matando três mil pessoas, ele pensou:
"Ali poderia estar a saída. Eu queria que o mundo acabasse".
Madoff contou isso na penitenciária onde, aos 77 anos, cumpre uma pena de 150 anos.